Nomadland: quando não pertencer também é um caminho

Nomadland é uma daquelas produções cinematográficas que surgem de tempos em tempos. Assim como mencionado no filme e de fácil conhecimento numa rápida busca no Google, quando uma estrela se extingue, ainda continuamos a vê-la, demorando às vezes até anos para que saibamos que ela deixou de existir. Nomadland é desse brilho que pode levar um certo tempo para alcançar quem o assiste. Mas é uma obra-prima, e que obra.

A diretora, roteirista e também editora chinesa Chloé Zhao traz aqui a jornada de vários alguéns que não pertencem a lugar algum e, mesmo assim, estão em todos os lugares. Talvez soe melancólico e até solitário o estilo de vida adotado por várias pessoas ao redor do mundo, mas Zhao faz questão de mostrar em planos-sequência maravilhosos e em cortes sensíveis na edição, que viver é uma escolha individual e que julgar como cada um encontra a sua própria forma de não pertencer, também pode significar amor e relevância.

Com uma atuação mais uma vez de encher os olhos, a veterana atriz Frances McDormand é personificação imperfeita de tudo o que o filme quer passar. Frances coloca tudo de si naquela que talvez seja a sua melhor performance até hoje. Porque atuar no sentido às vezes onírico, onde não são os diálogos que ditam, mas as expressões e até o imaginário de algo visto sob o seu ponto de vista é de uma magnitude impressionante.

Indo ainda mais além, essa simbiose entre Zhao e McDormand provoca, emociona e faz refletir. Somos o que consumimos? Somos o lugar em que vivemos? Somos o resultado do modelo cultural que estamos inseridos? Ou, quem sabe, somos apenas passageiros que transitam entre todas estas perguntas?

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Não há caminho definitivo ou resposta certa, acredito. Nomadland trata unicamente de despertar – e o fez com louvor, a experiência de creditarmos mais sensibilidade e carinho com nós mesmos, com as nossas escolhas, com os nossos laços, lembranças e presentes vividos. Nomadland não é um filme preguiçoso e ele expurga muitas das sensações que sequer cogitávamos carregar, mas aqui estamos.

Eu prefiro sair da zona de conforto e confesso ter me identificado bastante com Nomadland. Foram vários sentimentos permitidos e trabalhados enquanto assistia e digeria tudo. E como questionar é um dos meus hobbies prediletos, eu me pergunto: teria eu a coragem de viver sem raízes, mas estando presente no maior número possível de lugares, trocando histórias e somando novos encontros?

Eu digo que sim. Acho que sempre fui um nômade. Mas sou um nômade emocional e não apenas social ou residencial. Me adoro e me acolho por isso.

Imagens: Nomadland/Reprodução



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