“Se não formos gentis uns com os outros como é que vamos ser gentis com o desespero que mora em nós mesmos?”

Há um versículo bíblico que diz mais ou menos assim: “a boca diz o que o coração está cheio”. Essa expressão carrega um bocado de sabedoria, à medida que entendemos que a forma como nos relacionamos com os outros é a forma como nos relacionamos com nós mesmos. E só podemos doar ao outro aquilo que temos de sobra.

Da mesma forma, há a tendência de projetarmos nós mesmos no outro. E acabamos nos relacionando com espelhos. Assim, se acreditamos que amar é enviar mensagens no whatsapp a cada 6 horas, e a pessoa que diz nos amar não é capaz disso, imaginamos que ela não nos ama, quando na verdade ela tem outras maneiras de expressar seu amor, e que, por destoarem de nossas expectativas, podem ser encaradas como desamor.

Na maioria das vezes, pessoas pouco gentis, pouco amorosas e pouco generosas com outras, tratam-se a si mesmas da mesma forma. Mesmo que não transpareçam, no fundo são mesquinhas e avarentas consigo mesmas. Falta-lhes autocompreensão, amor-próprio, perdão.

Porém, muita gente se doa além da conta. Seja por entender que precisa agradar para ser amado, ou por acreditar que precisa passar uma imagem de perfeição, ou mesmo porque quer ser admirado pelo mundo que o cerca. A pessoa se desagrada para agradar, e paga um preço alto por isso, já que a doação não é genuína, e a dívida que está acumulando consigo mesmo será cobrada lá na frente, muitas vezes na forma de ressentimento, arrependimento ou mesmo somatizações.

Também não adianta doar-se esperando ser retribuído da mesma forma. Cada pessoa dá o que tem, ou o que lhe sobra, e se você doou-se além da conta, a falta de autocuidado ou autorresponsabilidade partiu de você mesmo. Antes de sermos gentis com os outros, devemos exercitar a gentileza com nós mesmos. Só assim seremos honestamente amorosos com quem quer que seja.

Com o tempo a gente aprende que nem tudo gira em torno do que as pessoas pensam ou sentem a nosso respeito. E algumas pessoas irão nos machucar ou nos afastar simplesmente porque estão vivenciando lutas internas que jamais iremos compreender ou alcançar.

Assim, a maneira como cada pessoa age ou reage a uma situação tem muito mais a ver com as batalhas internas dela do que com o que ela sente ou gostaria de demonstrar sentir por você.

Faça o que acredita ser o certo, o que está ao seu alcance, o que traz tranquilidade ao seu espírito. E depois confie… não crie expectativas, não espere retribuição, não cobre atitudes. O que tiver que permanecer, resistirá. O que ainda tiver algo a lhe ensinar, permanecerá. Faça tudo o que seu coração mandar e depois entregue. Apenas confie…

*A frase título desse texto é de Rupi Kaur

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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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