O amor é pássaro de asas grandes: voa longe, mas sempre pousa perto

Houve um tempo em que eu acreditava que amor era casar e ter filhos. Essa ideia de conto de fadas, me seguiu, de forma inconsciente, até meus vinte e poucos anos. Um belo dia, eu pensava, um bom rapaz surgirá, haverá um casamento, um vestido de noiva e crianças. Porém, conforme vivi as minhas experiências, delineadas por alegrias e tristezas, eu descobri: o amor não é um padrão de comportamento. O amor é atitude de quem experimenta a vida correndo os dedos pelos entalhes.

E foi pelo tato, que eu descobri como realmente era o amor. Eu consegui senti-lo nas nuances, nos relevos, nas curvas, nas profundidades, nas superfícies: lá estava o sentimento universal, aclamado pelos poetas, reverenciado pelos religiosos e sorvido até o último gole pelas mães.

Ao tocá-lo, eu compreendi o amor. Não de forma protocolar, não como um simples estado civil, não como uma princesa da Disney, mas no dia a dia, nas minúcias e nas grandiosidades.

O amor de quem gesta e pare seus próprios sonhos, o amor de quem faz com esmero, o amor de quem ilumina o caminho do outro, o amor de quem dá a mão, de quem diz não, de quem diz sim. O amor de quem se aninha por vontade, de quem perdoa, de quem constrói, de quem começa do zero mais uma vez. O amor de quem se permite iluminar pela alegria do outro. O amor de quem se olha no espelho e se ama, por dentro e por fora, não por ser perfeito, mas por ser como é.

E quanto mais eu experencio o amor, mais eu o reconheço em gestos e pessoas. É simples: o amor faz biscoito frito e macarronada, oferece café, chama de tia, pede conselho, perdoa, pergunta como estamos, se emociona, se embravece, sabe latir e miar. O amor te cobre nos dias frios, te deseja sorte, reza por você, te abraça quando não sabe o que dizer. O amor sabe calar, mas grita, se preciso for! O amor é sábio: consegue ser pequenino e ser gigante; sabe se apagar, para fazer o outro brilhar.

Um grande amor existe no rostinho do filho que acaba de nascer; entre dois amigos de infância; no livro publicado; na casa de janelas azuis; no quarto de um hospital; tomando chá de camomila quando todas as palavras já se esgotaram.

Se esse sentimento pode ser tão amplo e mutável, tão sublime e tão simples, ele não deve ser colocado em caixas, tampouco emoldurado. Não carece de regras, pois amor é pássaro de asas grandes: por mais que voe longe, ele volta e pousa perto.

E, se alguém um dia lhe perguntar: já viveu um grande amor? Qual resposta você será capaz de dar? A história oficial? A contada nos livros ou aquela que é, exclusivamente, sua?

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Cris Mendonça é uma jornalista mineira que escreve há 14 anos na internet. Seus textos falam sobre afeto, comportamento e Literatura de uma forma gostosa, como quem ganha abraço de vó! Cris é também autora do livro de crônicas "Mineiros não dizem eu te amo".

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