Das cartas que eu não mando

Brincando no meu iTunes, ontem, sorri com certo desdém pela ironia das minhas playlists. Depois que a acidez deixou a língua, deixei de ser boba e resolvi te agradecer por ter repaginado meu gosto musical, por ter me apresentado Moska, Camelo, Antunes e Jeneci. Jamiroquai, Save Ferris, The Kooks, Kasabian… De um modo geral, com exceção de todo aquele sertanejo e um ou outro pagode e house music, minhas músicas vieram todas importadas do seu acervo de treze dias musicais. A-gra-de-ço. Sério, agradeço mesmo. Criei certa simpatia, sabe? Fui ao show do Pearl Jam, duas vezes, te contei? Isso é tão você. E é irônico, pois se eu estivesse contigo, você iria sem sequer me convidar. Mas me convidaram, rapaz. Fizeram questão de me ter por perto, pra curtir um show que, caramba, eu passei a gostar também.

Sem mais, eu só te agradeço. Imensamente, por ter me preparado um bom bocado pro mundo. Por ter me feito mais egoísta e, apesar de, altruísta. Por ter exigido demais de mim e me fazer acreditar na minha capacidade meio torta de ser capaz, por ter me tirado o medo de altura, por ter me feito enxergar que a gente é suficientemente capaz de ser sozinho e que é muito bom ter gente para somar, não dividir. Isso de se doar sozinho, cansa. De gostar sozinho, ceder sozinho, apaixonar sozinho, querer sozinho, fazer acontecer sozinho. Equilíbrio, meu caro, requer dois. E, por mais cega que eu tenha ficado, foi bom ser sozinha, pra ver que sou suficientemente forte, que posso carregar o meu mundo e o nosso mundo nas costas. Não nosso-nosso. Meu e seu, nada disso. Nosso, me refiro, quando há nós. Ser plural, se é que você me entende… Não entende, não é? Você sempre foi egoísta demais pra dividir o teu mundinho com qualquer nós. Entre a gente, tinha nó. Um montão de nós, desfazendo laço atrás de laço até que não restou nadinha de nada. Nada de afeto, de consideração, de saudade. Nada. Só um tanto de gratidão – da minha parte – por ter me feito enxergar não tarde demais o quanto esses nós eram errados, impróprios e sem futuro.

Você me fez melhor, moço. Acrescentou uma boa dose de cultura, de ironia e de paciência. Me fez odiar o futebol, apaixonar por Quintana, cervejas e atum. Ando meio indecisa se gosto de árvores em miniaturas e chego à conclusão que não há nada pra concluir. Gosto de documentários, rezo todas as noites e assisto filmes franceses. Tem que ter cor! Depois de um ano muito azul, eu quero mais é vermelho, verde, preto e branco. A-ma-re-lo. Meu céu particular agora é sempre pôr ou nascer de sol. Suave, leve. E recheadinho de carinho, sabe como? Não, é claro que você não sabe… Você não tem noção e, caramba!, como é bom! Eu perdi o medo do toque, sou mais eu mesma do que nunca fui, perdi um tanto da minha claustrofobia, desde que o que me “sufoca” seja um pescoço e um abraço. Dá pra respirar tranqüilo no pescoço, rapaz. Dá pra dormir em paz. Fácil. Facílimo.

Então é isso.

Obrigada por ter sido tão insensível na tua sensibilidade. Por ter me cobrado demais, por ter querido que eu mudasse muito. Eu mudei foi suficiente pra saber que era desnecessário e comecei a fazer por quem faz por mim também, sabe? Você foi ótimo, apesar de. Talvez se não tivesse rolado beijo na boca, sentimento da minha parte e arrogância da tua, a gente teria se dado bem como amigo. Trocado correspondências, filmes, poesias, figurinhas. Quem sabe… algum dia.

É.
Obrigada.



LIVRO NOVO



Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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