“Melhor viver o seu próprio destino de forma imperfeita do que a imitação da vida de outra pessoa com perfeição”

Ando viciada na música “Secret Garden”, de Bruce Springsteen. A melodia é linda, e a letra dialoga com minha alma.

“Secret Garden” fala sobre uma mulher que deixará você entrar em sua casa, deixará você entrar em seu carro, deixará você ir longe o suficiente. Mas no momento em que olhar para você e sorrir, seus olhos irão dizer que ela tem um jardim secreto dentro dela – onde você não poderá chegar.

Nossa alma é insondável. E muitas vezes nem mesmo nós temos noção do nosso mistério, da nossa tragédia, da nossa coragem, da nossa paixão, do nosso silêncio… até o momento em que somos desafiados a desproteger nosso coração e encarar nosso jardim secreto.

A personagem criada por Clarice Lispector, em “A Paixão segundo GH”, livro que está me arrebatando atualmente, diz: “às vezes, olhando um instantâneo tirado na praia ou numa festa, percebia com leve apreensão irônica o que aquele rosto sorridente e escurecido me revelava: um silêncio. Ao olhar o retrato, eu via o mistério. Nunca, então, havia eu de pensar que um dia iria de encontro a esse silêncio. Ao estilhaçamento do silêncio.”

É preciso coragem para ir de encontro ao próprio silêncio, ao próprio mistério, ao próprio enigma. É preciso estar disposto a deparar-se com a própria face incompreensível, aquela que anda de mãos dadas com o incompreensível do mundo.

Ela acordou e percebeu que sentia saudade de si mesma. Não a saudade vaga de olhar-se no espelho, tomar um banho demorado, ouvir as músicas que gostava, ler seus livros preferidos. Era uma saudade mais profunda e abrangente, saudade de sentir-se inteira e consciente de si mesma. Tanta coisa havia mudado fora, no que ela havia se transformado? para abrandar a saudade, precisava agora de coragem. Coragem de despir-se, desproteger-se, desabrigar-se.

Tinha sido desafiada. A vida linear, organizada e coerente teve seu tempo, seu lugar, mas havia lhe poupado de aprofundar-se em si mesma. Agora tudo mudara. Sabia muito mais de si ao ser confrontada com a impermanência, transitoriedade e fragilidade da vida. Descobria-se forte. Corajosa. E de certa forma madura. Sua alma perdera o medo dos próprios abismos.

Agora ela sabia de seus próprios mistérios e respeitava. Tinha descoberto um jardim secreto que só ela podia visitar e gostava. Viu o melhor e o pior de si e desistiu de classificar-se. A mulher que havia se tornado deu as mãos à menina que foi, e juntas prometeram nunca mais ausentar-se de si mesmas.

Naquele momento compreendeu que não era necessário dar nomes a tudo, nem encontrar significado para a falta de sentido. Perdoava o pranto, os disfarces, a escuridão. E agora abria as portas e janelas, ventilando a culpa e aprendendo a estar só. A vida é gangorra: num dia você chora arrasada pela falta de colos, no outro você sorri sozinha transbordando amor. E por mais imperfeitos que fossem seus dias, eram o reflexo de quem ela escolhia – diariamente – ser.

*A frase título desse texto é do filme “Comer, rezar, amar”

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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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