O que perdemos quando o nosso pai morre

O momento em que um pai morre é um dos mais complexos na vida de uma pessoa. Não importa quantos anos tenhamos ou quão bom ou ruim esse relacionamento tenha sido com o pai. Mesmo um pai distante ou ausente deixa um vazio profundo e uma série de sentimentos e emoções difíceis de processar.

Quando nosso pai morre, precisamos nos reposicionar mentalmente no mundo. Por um tempo, o lugar que ocupamos no planeta se torna um pouco difuso. Nós também temos que modificar nossa autopercepção. Sem o nosso pai, não somos iguais a antes.

Embora o habitual seja que tenhamos mais apego e proximidade com nossa mãe, a verdade é que o pai é uma figura que está sempre no horizonte. Mesmo quando não está lá, sua presença brilha no pano de fundo. É um guia e protetor, embora não o guie ou proteja. Nossa mente colocou nesse papel, mesmo sem perceber.

Quando o pai morre, a identidade muda

Somos nós quando temos um pai e outros quando nosso pai morre. Não importa se temos 30, 40 ou 50 anos no momento em que o evento ocorre. Enquanto nossos pais estão vivos, uma parte de nós continua a viver na infância. Nós sentimos que nossa vida é liderada por outro ser.

No momento da morte do pai, um pequeno terremoto ocorre em nossa identidade. Nós somos aqueles que lideram as gerações que nos seguem. Isso assusta e gera uma sensação de solidão.

Um processo de construção de uma nova identidade adulta começa então. Isso não é feito automaticamente e não está livre de sofrimento. Precisamos construir uma nova perspectiva sobre quem somos e nosso lugar na vida dos outros. Quando o pai morre, é como se tivéssemos perdido uma âncora. Por um tempo estaremos à deriva.

Nostalgia pelo que nunca foi

Nós nunca teremos outro pai. É uma perda absolutamente irreparável. Quer tenhamos um bom relacionamento com ele ou não, sentiremos nostalgia pelo que nunca aconteceu ou o que nunca aconteceu. Algo dentro de nós resiste a renunciar aos ideais, a aceitar o impossível.

Se nosso pai era próximo e afetuoso, vamos ver tudo o que ele nos deu. Seus sacrifícios e esforços para nos fazer felizes. Então, podemos pensar que não correspondemos adequadamente àqueles presentes generosos. Que nos faltava dar mais amor, mais atenção ou mais felicidade.

Se o relacionamento com o pai não foi bom, as coisas ficam um pouco mais difíceis. O normal é que as fraturas e os pontos de ruptura nessa relação começam a pesar mais. Agora não há mais a oportunidade de encurtar essas distâncias ou simplesmente dizer sim, que apesar de tudo, nós amamos isso.

Algo semelhante acontece no caso de pais ausentes. Para aquela ausência vivida e sofrida, seguramente por muito tempo, a força da ausência total é acrescentada agora. É como ser forçado a fechar um ciclo que nunca foi realmente aberto.

O imperativo para avançar

Não importa quais sejam as circunstâncias, se nosso pai morrer, a dor provavelmente aparecerá. Nós também vamos mudar às vezes de uma maneira positiva. Sem essa figura normativa atual, é possível que aspectos de nossa personalidade ou realidades que foram inibidas por sua presença venham à luz.

De qualquer forma, essa perda certamente irá doer intensamente por um bom tempo. Ao longo dos meses e anos, será mais tolerável. O mais aconselhável é entender que o sofrimento puro e duro antes da morte do pai é uma fase perfeitamente normal. Podemos ter 50 anos, mas mesmo assim vai doer, vai nos assustar.

A psicóloga Jeanne Safer recomenda dedicar um tempo para refletir sobre o legado que nosso pai nos deixou. E faça basicamente cinco perguntas: o que eu recebi do meu pai? O que eu quero manter disso? O que eu quero descartar? O que eu me arrependo de não ter recebido? O que eu gostaria de dar e não dizer?

Tudo isso permite identificar onde estão as fraturas e vazios. Isso, por sua vez, ajuda a gerar estratégias para processar essas lacunas e interrupções. Quando nosso pai morre, novas veias de crescimento também se abrem. O mais inteligente é tirar vantagem deles.

Do original publicado no site lamenteesmaravillosa
Imagem de capa: Pexels



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

3 COMENTÁRIOS

  1. Vao completar 8 anos do falecimento do meu pai, todos os dias penso nele, era um pai exemplar, amigo, conselheiro, atencioso
    e tinha um coracao que não cabia no peito, sempre de.prontidão para ajudar as pessoas, sofro muito sua ausência ?

  2. Vaí fazer precisamente no dia 23 de dezembro que o meu pai partiu. O seu nome era Jesus, teve um princípio de infarto no dia 04 de dezembro onde o meu irmão especial nasceu em 1972 e minha mãe 21 anos de falecida. Eu sou sua única filha mulher com 06 filhos homens se é que posso chamá-los assim! Meu pai demonstrava não gostar de filha mulher no entanto demonstrei para ele que nunca lhe trouxe um problema enquanto os machos não posso dizer o mesmo. Eu sempre estive ao seu lado quando tinha seus problemas, e suas doenças corriqueiras eu era a primeira a chegar para tratá-lo como se tivesse uma empregada particular fora cuidar do irmão que não anda, senta, fala ou mesmo come com sua mão. Fui eu que levei para o pronto socorro e da mesma forma na hora de transferi-lo para outro hospital quando se encontrava seus filhos homens um sargento da polícia militar e mais dois. Entrei e fui resolver lá dentro do pronto socorro pois os filhos homens era umas merdas que nem para dá descarga servia. Ele já tinha estado neste maldito pronto socorro quando deram alta para ele. E eu trouxe para casa e vi que estava piorando o seu estado. Sentei na beira de sua rede e lhe disse que o perdoava tudo de ruim que tinha me feito, e que eu o amava tanto que seria capaz de dá a vida por ele. Ele tinha 86 anos no entanto não apresentava a idade que tinha. Esse sistema mata as pessoas meu pai tinha tudo para ter saído vivo conversei com o médico da UTI do açougue Platão Araujo quais eram as chances de meu pai sair vivo? E ele me respondeu todas as chances no entanto do dia 04 de dezembro para o dia 23 foram 19 dias ele precisava de um cateterismo e não foi feito por incompetência dos filhos malditos que fixaram no comando. Eu voltei para casa até hoje não me perdoe por ter deixado o meu pai com uns filhos tão vagabundos. Eu teria levado para o INCOR FRETADO AMBULÂNCIA POIS TÍNHAMOS CONDIÇÕES PARA ISSO. QUANDO FOI AS OITO HORAS DA MANHÃ O MEU PAI MORREU! E EU MORRI JUNTO PREFERIA ESTAR NAQUELE CAIXÃO. O MEU PAI JESUS FOI SEPULTADO NO DIA 24 DE DEZEMBRO 2017 ESTRANHA COINCIDÊNCIA.

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