Largar tudo e sair pelo mundo: moda, fuga ou real necessidade?

Falar sobre o famoso “sabático” não é novidade para ninguém. Quantas histórias você conhece sobre pessoas que estão extremamente insatisfeitas com suas vidas e decidem largar tudo para viajar pelo mundo em busca de respostas?

Acho que eu completo vários dedos das mãos se for listar todos que conheço que fizeram isso (sem contar aqueles que não fizeram, mas pensam na ideia ).

É claro que não estou querendo dizer que essas pessoas simplesmente largaram tudo da noite para o dia. A maioria se planeja por um bom tempo antes de tomar essa decisão (que não é fácil para alguns). O ponto da discussão aqui é outro.

Por que há tantas pessoas com essa mesma insatisfação e o que faz com que tenham um mesmo comportamento?

Fórmulas prontas: grandes geradoras de frustrações

Por muito tempo achei que era, majoritariamente, uma questão de não se encontrar no mundo corporativo (e realmente acho que uma certa parcela se encaixa aqui). No entanto, recentemente ouvi a história de uma garota que gostava do seu trabalho, da empresa na qual trabalhava e, mesmo assim, não estava mais enxergando significado na vida que levava.

Seu incômodo era claro – ela não queria mais essa vida de acordar, ficar 2 horas no transporte e depois o restante do dia trancada no escritório (mesmo gostando do que ela fazia). Ela não tinha mais certeza se aquele dia a dia tinha significado – e mais: ela não tinha mais certeza se aquelas escolhas que a levaram até ali tinham sido mesmo dela ou eram só a fórmula pronta que a mandaram seguir.

“Tire boas notas na escola, entre na faculdade, encontre um estágio, seja efetivado, seja promovido, case, tenha filhos…”

Não é exatamente isto que a maioria de nós ouve a vida toda?

Será que não é essa fórmula padronizada que está fazendo com que, em certo ponto da vida, as pessoas acordem e não enxerguem mais significado na rotina que levam?

Viajar pode ser apenas uma das peças do quebra-cabeça

Acredito que viajar seja uma forma muito interessante de viver um momento de autodescoberta depois que abrimos a cabeça para esses questionamentos e nos damos conta de que algo não vai bem dentro da gente.

Mas será mesmo que a viagem irá trazer as respostas necessárias? Ou é o processo de autoconhecimento (que pode ocorrer em uma viagem ou de outras formas) que trará essas respostas?

Fica aqui o meu questionamento sobre o quanto viajar é atraente e glamouroso, mas sobre o quanto de fato é a peça chave central para solucionar esse quebra-cabeça que tanta gente vive.

A importância de entender se essa decisão é realmente sua

Tenho certeza de que é uma espécie de “ferramenta poderosa”, afinal, as viagens têm um poder incrível em nossas vidas. No entanto, não tenho mais tanta certeza se boa parte das pessoas que partem para tal experiência com o objetivo de se encontrarem estão realmente tomando essa escolha de forma consciente.

Não sei mais dizer se estão seguindo “a moda” de tirar um sabático pelo mundo e se ausentar das responsabilidades rotineiras por um período; se estão simplesmente fugindo porque não conseguem encarar seus problemas de frente; ou se a necessidade realmente fala mais alto e viajar é a forma mais eficaz de trabalhar todo esse processo interno.

Acredito que não exista resposta certa e para cada um a experiência de largar o ambiente rotineiro tradicional e sair pelo mundo signifique uma coisa, mas fica aqui o meu questionamento dos últimos dias para quem já viveu tal experiência ou está cogitando viver.

Será que essa decisão é realmente sua ou você está apenas seguindo o que disseram que deveria fazer para encontrar as respostas para os seus questionamentos existenciais?



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Bruna Cosenza é paulista e publicitária. Acredita que as palavras têm poder próprio e são capazes de transformar, inspirar e libertar. É autora do romance "Lola & Benjamin" e criadora do blog Para Preencher, no qual escreve sobre comportamento e relacionamentos do mundo contemporâneo.

1 COMENTÁRIO

  1. Essa insatisfação que gera a vontade de “largar tudo” mesmo “gostando”do trabalho é característica de quem está muito focado no próprio umbigo, dando muito valor ás próprias conquistas e perdas, por isso a sensação desse vazio existencial que claro, precisa ser preenchido com coisas boas. Voluntários engajados em qualquer trabalho não remunerado em favor do outro não costumam se sentir assim, ao contrário, esbanjam alegria de viver, motivação, entusiasmo e compartilhamento, acordando todos os dias com pressa para fazer não apenas o que gostam mas aquilo que realmente os torna úteis para animais, pessoas e meio ambiente embora nenhum dinheiro recebam por isso, ao contrário, muitos gastam do seu bolso para suprir carências alheias. Mesmo porque, é impossível largar tudo pois aquilo que somos nos acompanha para onde quer que fujamos, seja tristeza, decepção, tédio ou qualquer energia negativa acumulada sem a imprescindível vigilância de substituí-la por energia positiva, assim que se insinuasse sorrateira em nossa mente. Nenhuma viagem de navio, estadia em hotel cinco estrelas, guarda roupa de grife famosa será capaz de nos mudar por dentro, porque a felicidade não está em nenhum lugar lá fora, em nenhum novo amor ou novo emprego, a felicidade é você ou não é. Por isso tantos artistas famosos, assim que alcançam o topo da fama, onde não há mais degraus para subir, se destroem com bebidas ou drogas, porque não encontraram nenhum prazer em enxugar as lágrimas dos outros ou em minorar sofrimentos que não sejam os seus. Muitos só encontram a saída pela porta enganosa do suicídio, porque se perderam de si próprios, de quando sabiam ser felizes com pouco dinheiro e nenhuma fama. Aqueles que descobrem alegria em ajudar os outros, não pensam em largar tudo e fugir para nem sabem onde porque se descobriram nos sorrisos que constroem nos rostos tristes e no alimento, nos remédios e nas moedas que enchem as mãos, antes vazias, dos mais pobres, para que se acreditem, por um momento, um pouco ricos. “É preciso encontrar alegria no amor que se dá, não no amor que se recebe”.

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