Gratidão: por tudo de belo que faz a vida valer a pena.

Gratidão é uma palavra que está na moda. Não sei se pela pureza do sentimento, pela força da palavra, ou simplesmente pelo alcance da “hashtag gratidão”; só sei que virou comum expressar-se assim, utilizando-se o substantivo e toda a sua carga de convicção. “Muito obrigado”, “valeu” e todos os derivados transformaram-se em “Gratidão!!!”.

A primeira vez que me deparei com este sentimento enfático e puro eu estava na pré-escola. Um colega arteiro machucou-se no parquinho, abrindo a testa e o berreiro. Prontamente atendido pela professora e a diretora da escola, nada de mais sério ocorreu, além de alguns pontos doloridos e mais tarde uma fina cicatriz a marcar-lhe a rosto matreiro. O fato, porém, marcou sua mãe, que ficou imensamente grata pela atenção e cuidado com que o filho foi atendido. Não foi uma ou duas vezes que o garoto chegou à escola empunhando flores, frutas e outros mimos para as suas salvadoras. Nas datas comemorativas os presentes ganhavam maior vulto e a mãe ia pessoalmente prestar sua homenagem. Eu acompanhava tudo aquilo de longe e pensava, no alto dos meus 6 anos, que elas haviam simplesmente cumprido com sua obrigação. “Para que agradecer tanto, já está tudo bem” – eu imaginava. Eu não sabia, ainda, que a gratidão é o mais nobre sentimento, e que não há motivo pequeno demais para ser imensamente grato.

Muitos anos mais tarde chegou minha vez de nutrir um infinito sentimento de gratidão, e então relembrar a mãe do meu amiguinho, finalmente compreendendo o que ela sentia. Lembro como se fosse hoje o dia em que conheci a pessoa que me fez assimilar o sentido daquela velha lembrança. Era uma nebulosa segunda-feira de abril do ano mais difícil da minha vida – 2002. Estávamos na porta da UTI onde minha mãe era atendida após sofrer um AVC. Ele, o médico tão aguardado, não trouxe boas perspectivas. Porém, apesar da gravidade da situação, transmitia calma e segurança. Entreguei em suas mãos minha dor e esperança, além de toda a minha confiança. Ele recebeu a missão e cumpriu com maestria. Os percalços que minha mãe enfrentaria no longo caminho de luta pela vida não cabem aqui; o que cabe é o sentimento de gratidão pelo homem que a salvou. Depois da vitória da vida, no tempo da paz e do reconhecimento, tornamo-nos amigos. Nossas famílias se aproximaram e minha mãe o chama ternamente de “meu filho”, e seus filhos de “meus netos”. Acho que não há forma melhor de expressar sua gratidão. De minha parte, faço como alguém que conheci na infância: não esqueço o presente de aniversário nem as datas especiais. Dedico-lhe minha amizade e as mais sinceras palavras de incentivo e gratidão, porque descobri que para este sentimento não existe motivo pequeno ou grande demais.

Palavra da moda ou sabedoria antiga, o que vale é lembrar de agradecer. Pelas coisas grandes e pelas pequenas. Pelos atos de colaboração, incentivo e doação. Pelo empenho profissional (não é apenas obrigação), pelas grandes vitórias partilhadas e pelos pequenos atos do dia-a-dia. Pelo sorriso, pela mão estendida, pelo ombro amigo, pelo apoio do irmão. Pelo café no meio da tarde. Pelos velhos aprendizados e novos ensinamentos. Por tudo de belo que faz a vida valer a pena. Pela Vida, e pelos que a partilham comigo, minha sincera #gratidão.



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Arquiteta, tia, madrinha de sete. Apaixonada por gente e palavras, desde cedo fez dos “escritos” uma forma de homenagem: à vida, à família, aos amigos. No início de 2018 reuniu alguns textos no facebook e ganhou leitores assíduos, mais amigos e novos sonhos. Desde então, divide os projetos com as palavras - além do cinema com os afilhados (um ou dois de cada vez) e do café com a “menina da sala ao lado”. Vive em Curitiba, onde coleciona memórias, ímãs de viagem e recados na geladeira.

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