Passei uma noite dessas pensando: tua escova no banheiro, tuas roupas no armário, teu cheiro em minhas coisas. Olho pra gente e fico impressionado – que vida, hein? O destino caprichou ao jogar a gente assim, um frente ao outro. Tem gente que se encontra. Eu e você foi um acidente. Batemos forte e eu ainda não me recuperei. Estou aqui, juntando os cacos e sem saber se vou ou se fico.

Eu poderia te escrever uma carta, mas você detesta ler e eu paro outra vez pra pensar: como é que alguém com tanta preguiça pra ler pode morar na vida de um escritor? Eu já nem ligo pra sua gramática falha ou como ainda erra grosseiramente o uso do “mas e do mais”. Eu até planejei te explicar essa diferença num assunto aleatório depois de a gente ter suado a cama toda. Acho que cairia bem.

Começou com a minha voz, um jeito disfarçado pra pedir meu telefone que você perdeu. Poderia ter acabado ali todo esse enredo pra um refrão que a gente não vai cantar junto. Aí teu sorriso me roubou pra só depois entender que a minha voz e o teu sorriso eram os mesmos, que a gente só se desencontrou numa esquina qualquer do destino. Mas, teimoso como é, o cara lá em cima enfiou a gente frente a frente.

Foi por olhar a gente frente ao espelho que eu me assustei. Quantos palavrões se pode dizer pra falar que a gente é do caralho junto? Foi vendo a gente ali nesse intervalo de minuto, guardando lembranças em algum vídeo que você perdeu, que era só pra gente não sentir saudade. Foi vendo a gente assim de perto que entendi de verdade pra onde eu quero ir.

Nessa sede de vida, quero viagens que me façam crescer, quero desafios que me mostrem que viver é mais que sobreviver. Quero tu e todo seu amor correndo pela casa. Quero mais de nós nos finais de noite. Quero histórias pra contar. Quero te ligar sem esperar pra te fazer sorrir em qualquer lugar. Quero esse futuro que desenhei pra nós desde que te vi sorrir. Se você não for, vou sozinho. Vou escrever um livro pra falar que o destino às vezes acerta na gente e a gente é que não acerta o destino.

Giovane Galvan

Giovane Galvan é taurino, apaixonado e constantemente acompanhado pela saudade. Jornalista, designer, produtor e redator, escreve por paixão. Detesta futebol e cozinha muito bem. Suas observações cotidianas são dramáticas e carregadas de poesia. Gosta do nascer e do pôr do sol, da noite, mesas de bar e do cheiro das mulheres pra quem geralmente escreve. Viciado em arrancar sorrisos, prefere explicar a vida através de uma ótica metafórica aliando os tropeços diários a ensinamentos empíricos com a mesma verdade que vivencia. Intenso, sarcástico e desengonçado, diz que tem alma de artista. Acredita que bons escritos assim como a boa comida, servem de abraço, de viagem pelo tempo e de acalento em qualquer circunstância.

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