Apertem os cintos, o crush chegou

Era um domingo frio, já no final do dia, quando ela embarcou em um voo para Campinas. Munida de sua pequena mala para dar conta dos próximos três dias de trabalho na cidade paulista, seguiu o ritual. Sentou-se próxima à janela, como quem não tivesse medo de avião, colocou o cinto de segurança, mesmo sabendo que a aeronave demoraria a decolar. “Por garantia!”, pensou.

Quando já havia acabado de se acomodar, um rapaz moreno de olhos castanho claros e cabelos caídos na testa, sentou-se ao lado dela. Com um sorriso largo de dentes brancos e alinhados, apressou-se em dizer:

_Boa tarde!

_Boa tarde!_respondeu a outra intimidada pela beleza do moço.

Os passageiros tinham acabado de se acomodar e as aeromoças davam as instruções de segurança, quando o moreno com cara de galã italiano, se apresentou:

_Meu nome é Pedro. E o seu?

_Carolina.

_Muito prazer!

_Igualmente.

A aeronave iniciava a decolagem, quando Pedro disse em tom de confessionário:
_Carolina, eu tenho medo de avião!_disse, deslocando o corpo um pouco mais para o lado dela.

_Jura?! Eu também_respondeu aliviada.

_Você se importaria se eu pegasse na sua mão? Eu vou ficar mais calmo!_questionou o moço a olhando quase com piedade.

_Sem problemas…_respondeu Carolina com um fiozinho de voz preso entre a satisfação e a vontade de rir.

O rapaz então botou a mão sobre a dela, apertou-a com suavidade e agradeceu com um outro sorriso mais bonito que o primeiro. Ela olhou a cena intimidada, achando a situação um pouco cômica.

Durante o voo, conversaram sobre os motivos da viagem, emprego – o rapaz iria embora em breve para outro país a trabalho – e até mesmo sobre o signo de cada um. Descobriram que eram de Sagitário, nascidos no mesmo ano, com apenas seis dias de diferença. Carolina, não se aguentou. E em pensamento, concluiu:

_Ok, ok. Onde estão as câmeras? Já percebi que é pegadinha! Esse cara lindo e educado dando em cima de mim sem o menor pudor. Apareçam, gente da TV!

O voo, infelizmente curto para a Carolina, já ameaçava chegar ao final. E enquanto a prosa se prolongava, o avião fazia o pouso. Quando todos os passageiros já haviam se levantando, Pedro ainda sentado, perguntou:

_Posso te dar um beijo?

_Claro, amor! Óbvio! _pensou a outra, já ignorando o passageiro da fila ao lado, observando curioso todo o clima do casal recém-apresentado.

Não foi preciso responder. Ali mesmo, nas poltronas 21 e 22 da fila 25F, se beijaram como se não houvesse amanhã. “Só se vive uma vez!”, pensou a moça, em êxtase por toda a situação.

A aeromoça percebendo a cena, pigarreou. Cessaram o beijo de cinema, se alinharam e saíram da aeronave com as carinhas mais felizes! Caminharam lado a lado pelo saguão do aeroporto como dois seres distintos, e no final do percurso, o moço insistiu em deixá-la no destino. Ela recusou o convite, afinal já havia se arriscado demais até ali, e diga-se de passagem, sem arrependimentos.

Despediram-se trocando os contatos, e pelas redes sociais ela soube, dias depois, da chegada do moço a sua nova morada em Berlim. Na Alemanha ou no Brasil, ficaram as boas lembranças, acompanhadas de risadinhas do crush bonito do avião que beijava tão bem!



LIVRO NOVO



Cris Mendonça é uma jornalista mineira que escreve há 14 anos na internet. Seus textos falam sobre afeto, comportamento e Literatura de uma forma gostosa, como quem ganha abraço de vó! Cris é também autora do livro de crônicas "Mineiros não dizem eu te amo".

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