A briga dos pais afeta diretamente a saúde mental das crianças

O ambiente doméstico tem um grande impacto sobre a saúde mental e o desenvolvimento de longo prazo das crianças – e não apenas por causa da relação entre pais e filhos. A dinâmica de relacionamento entre os próprios pais também desempenha um papel crucial no bem-estar das crianças, em sua performance acadêmica e até em seus relacionamentos futuros.

Antes de mais nada, é preciso destacar que, na maioria das vezes, pequenas discussões cotidianas são parte da vida e têm um impacto nulo ou muito pequeno nos pequenos. O que realmente afeta as crianças são comportamentos como gritos e demonstrações mútuas de raiva diante dos filhos, ou quando um cônjuge ignora o outro constantemente.

Uma recente revisão de pesquisas internacionais, conduzidas ao longo de décadas e analisando comportamentos domésticos e o desempenho de crianças ao longo da vida, sugere que, a partir dos seis meses de vida, crianças expostas a conflitos tendem a ter batimentos cardíacos mais acelerados e níveis mais altos de estresse – o que, por sua vez, prejudica a formação de conexões neurais nos cérebros infantis.

Conflitos interparentais severos ou crônicos podem, portanto, provocar consequências como interrupções no desenvolvimento cerebral, distúrbios do sono, ansiedade, depressão, indisciplina e outros problemas graves em bebês, crianças e adolescentes.

Desempenho acadêmico e disciplinar dos filhos pode ser afetado por brigas constantes entre os pais.

Efeitos similares são observados em crianças expostas a brigas menos intensas, porém contínuas, em comparação com crianças cujos pais resolvem seus conflitos e negociam entre si de modo construtivo.

 

Do divórcio a trocas afetivas. O que realmente afeta as crianças pode causar surpresa.

Muitos adultos acreditam que o divórcio – ou a decisão dos pais de deixarem de morar juntos – tenha efeito duradouro e danoso nos filhos. No entanto, um estudo publicado em 2012 pela Universidade de Cardiff, no País de Gales, constatou que são provavelmente as discussões ocorridas antes, durante e depois do divórcio que causam danos às crianças, e não a separação em si.

Ao mesmo tempo, muitas vezes se atribui à genética a forma como as crianças respondem a conflitos. Mas o ambiente doméstico e a qualidade das trocas afetivas dentro de casa têm um papel central nessa equação.

Quando os pais resolvem seus conflitos de modo saudável, dão uma importante lição aos filhos.  Além disso, é possível que riscos genéticos para problemas mentais sejam potencializados – para bem ou para mal – pelo cotidiano familiar.

A qualidade do relacionamento entre os pais é um elemento central, independentemente se os pais moram juntos ou não, se os filhos são biológicos ou adotivos.

Como agir – e como discutir?

Pesquisas mostram que, com dois anos de idade e até antes disso, as crianças são astutas observadoras do comportamento dos pais. Eles frequentemente percebem as discussões, mesmo quando os pais acham que estão brigando “escondidos”.

O que importa é o modo como a criança interpreta e entende as causas e potenciais consequências desses conflitos domésticos.

Vai ser com base nessas experiências que as crianças vão avaliar se o conflito pode aumentar, envolvê-las ou colocar em risco a estabilidade familiar – algo que deixa os filhos pequenos especialmente preocupados.

Meninos e meninas podem reagir de formas distintas aos conflitos interparentais
Elas também podem ficar com medo de seu próprio relacionamento com o pai e a mãe piorarem por causa das brigas. Pesquisas indicam que meninos e meninas podem reagir de modo distinto – sendo que as meninas têm risco maior de desenvolver problemas emocionais, enquanto os meninos tendem a desenvolver problemas disciplinares.

Com frequência, projetos sociais voltados à saúde mental juvenil focam em amparar as crianças. Mas é possível que amparar os pais na resolução de seus conflitos tenha um grande impacto nessas crianças no curto prazo, além de dar a elas mais ferramentas emocionais para formar relacionamentos saudáveis com outras pessoas no futuro.

Pais que estejam preocupados quanto ao impacto de suas discussões nas crianças precisam saber que as crianças, na verdade, respondem bem quando os pais explicam e resolvem suas discussões de modo apropriado. Ao verem os pais solucionarem seus desentendimentos de maneira saudável, os filhos aprendem lições importantes que os ajudarão a entender suas próprias emoções e a se relacionar para além do círculo familiar.

Ajudar os pais a entender como seu comportamento mútuo afeta o desenvolvimento dos filhos cria as bases para formarmos crianças saudáveis hoje – e famílias mais saudáveis no futuro.

Imagem de capa: Shutterstock/TORWAISTUDIO

Texto escrito por Gordon Harold e originalmente postado no site da BBC



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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