Abra a janela, meu bem

Nem sempre é fácil perceber o horizonte, essa linha aparente ao longo, à frente, logo ali. Somos tão bons em olhar pra trás, né? Analisar o que já foi, chorar o que não é mais, essas coisas. O passado é mesmo uma pedra no sapato quando se olha pra ele sem raciocínio lógico.

Quero dizer, cultivar o que passou como lástima é tão nocivo quanto a nicotina no pulmão do fumante. É preciso gostar do passado como um livro de receitas passível de utilização no presente, ou seja, os ingredientes que falharam o cardápio não devem ser repetidos.

Aprender com o que passou é a forma mais inteligente de fazer dar certo qualquer coisa que não deu antes. Seja a receita, seja o trabalho, seja uma amizade, qualquer coisa. Se somos seres inteligentes, e até somos, por qual razão ainda tentamos repetir as mesmas doses da bebida que nos remete àquela ressaca horrível?

Eu sei que na teoria é mais fácil, por experiência própria sei disso. Mas, sei lá, uma hora ou outra nos damos conta de que o presente é o único tempo compatível com a vida. O resto é só uma forma a mais de estragar a pele.

Não acho que o passado seja apagável, nada disso. Ao contrário, quando pensamos no passado como aprendizado, só assim, conseguimos tirar proveito dele, sem pele seca, sem fumacinha no pulmão, sem rugas de preocupação. Quando analiso o que fiz ontem – entenda ontem como qualquer tempo que já foi -, e entendi o que fiz de errado, muito provavelmente saberei o que não devo repetir.

É aquela história de “talvez não saiba o que quero”, mas sei exatamente “aquilo que não quero”. E, sendo assim, posso gostar outra vez de fazer aquele trabalho, posso me apaixonar novamente, posso abrir meu coração pro que há de novo vindo em minha direção.

Quem vive do passado não encontra espaço pro novo, infelizmente. E o novo é a nossa única chance de recuperar a esperança. Há sempre novas possibilidades para renascer das trevas, basta compreender o que significou ontem para uma boa vida no hoje e, certamente, no amanhã também. Deixe o passado num belo (e pequeno) lugarzinho do seu coração, agradeça as boas experiências e expurgue as ruins.

Há uma vida inteira por trás da cortina, mas você precisa abrir a janela.



LIVRO NOVO



Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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