Carta para os que aceitaram o fim de um grande amor

Rodrigo,

Confesso que foi difícil me levantar da cama esta manhã. Estava me sentindo completamente exausta, como se não tivesse pregado os olhos a noite inteira – e talvez eu não tenha mesmo.

Durante os primeiros vinte minutos na cama não consegui parar de reviver tudo o que falamos um para o outro, mas o que me deixou mais angustiada foi o que não falamos. Tudo aquilo que ficou apenas vagando pelas nossas mentes enquanto nossos olhares gritavam que, apesar de precisar ser daquele jeito, não era o que queríamos.

A vida é muito louca mesmo. Até agora eu não consegui entender muito bem tudo o que aconteceu entre nós. Foi tanto sentimento em um espaço de tempo tão curto, que de vez em quando tenho a sensação de que estava me afogando. Era como se os sentimentos estivessem sempre em excesso, me proibindo de enxergar o que eu precisava e me fazendo mergulhar em tudo aquilo que a nossa conexão me fazia sentir.

Acho que se pudesse definir o nosso relacionamento em uma metáfora seria exatamente isso. Estávamos sempre quase afundando, faltava ar, faltava respirar. Em um primeiro momento isso parece muito ruim, mas foi tão profundo que me fez entender que o fim não poderia ser fácil, tinha que ser doloroso. E continuará sendo por um bom tempo.

Não sei como vou terminar o dia hoje, como será amanhã ou nas semanas seguintes. Não faço ideia se continuarei chorando o tempo todo, se a vontade de levantar da cama todos os dias irá reaparecer, se a vida voltará a ter graça e cor. Realmente não sei. O que eu sei hoje é que está doendo.

Acho que o pior de tudo não é chegar ao fim, mas aceitá-lo. O pior de tudo é precisar absorver a tempestade e internalizar que não poderia ser de outro jeito. Confesso que ainda não consegui. Apesar de já enxergar que o fim chegou, ele ainda não faz muito sentido na minha cabeça. E tenho certeza de que as coisas só vão começar a melhorar quando eu aceitar esse doloroso ponto final.

Vai passar. Eu preciso acreditar que vai. E então tudo vai ficar bem. Nós vamos ficar bem, né? Mesmo que não seja seguindo o mesmo caminho, preciso acreditar que vamos conseguir seguir algum caminho daqui em diante.

Com amor,

Mari.



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Bruna Cosenza é paulista e publicitária. Acredita que as palavras têm poder próprio e são capazes de transformar, inspirar e libertar. É autora do romance "Lola & Benjamin" e criadora do blog Para Preencher, no qual escreve sobre comportamento e relacionamentos do mundo contemporâneo.

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