Pelo direito de ser quem somos

Quer queiramos ou não, quer nos demos conta ou não, estamos o tempo todo desempenhando papéis. No trabalho necessitamos desempenhar o papel de profissionais competentes, disciplinados, resolutivos. Na família queremos ser o bom filho, a boa irmã, o tio exemplar, a mãe super dedicada. Na roda de amigos queremos parecer o mais engraçado, o amigão sempre disposto a ajudar, o que tem sempre os melhores conselhos. No relacionamento nos cobram maturidade, compreensão, esperam que sejamos o/a parceiro/a ideal. É automático e compreensível que precisemos desempenhar papéis. Mas em meio a tudo isso, será que tem sobrado tempo e espaço para que possamos ser somente a gente mesmo, somente aquilo que somos de verdade, sem precisar a todo momento provar algo pra alguém? Aliás, em meio a tudo isso, desconfio que tenhamos dificuldade até pra saber ao certo quem somos. Pense no seu circulo de relacionamentos, com quantas pessoas você sente que pode ser quem é de verdade? Quantas pessoas lhe respeitam a ponto de permitir e aceitar quem você é? Poucas, raras, cada vez mais inexistentes. Entramos nas relações já esperando que o outro corresponda as nossas expectativas, se encaixe nos nossos padrões, tenha comportamentos previsíveis… E muitas vezes esperamos, inclusive, aquilo que nem nós somos. Se o outro não é exatamente do jeito que queremos, próximo, não vamos perder tempo construindo algo, fazendo acordos, buscando novas formas de se relacionar. E é por isso que as relações estão cada vez menos duradouras, cada vez mais líquidas, cada vez mais fugazes. Se relacionar é difícil, é trabalhoso e precisa de tempo e disponibilidade para tal. E precisa que tenhamos o respeito de olhar para o outro e permitir que ele seja quem ele é e não aquilo que esperamos dele. Esperam tanto de nós que estamos nos desconectando da nossa essência. Afinal, quem você é? Do que você gosta? Como se sente em determinadas situações? O que é importante pra você? Não sei se ainda sabemos, não sei se temos tido espaço pra só ser a gente, sem máscaras, sem papéis a desempenhar. Mas, que comecemos por nós mesmos, que tenhamos mais cuidado na relação com o outro, que possamos respeitar sua alteridade, que possamos permitir que ele apenas seja, que possamos acolher as semelhanças, mas sobretudo as diferenças. Que haja espaço pra risada, pro abraço, pro colo, mas que também haja espaço pras lágrimas, pros dias nebulosos, pras reclamações, pros pedidos de ajuda implícitos naquela cara fechada. Assim teremos relações mais sólidas, mais bonitas, mais reais e mais possíveis. Aceitar o outro e permitir que ele seja o que é não significa concordar com o seu comportamento, significa estar disposto a se relacionar com alguém que é diferente de você, significa que você acolhe a diferença mesmo que não possa compreendê-la.

Imagem de capa: Nok Lek, Shutterstock



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"Psicóloga de vez em sempre, organizada de vez em nunca. Escreve sobre coisas aleatórias e em momentos mais aleatórios ainda. Tem mania de observar tudo ao seu redor, mas tem opinião formada sobre bem poucas coisas. Aprendiz na arte de encerrar ciclos e de se abrir para novas experiências. Acredita em Deus e nas pessoas. Gosta muito do mar, de sol, da família, dos amigos. Corre, malha, faz trilha, come e bebe quando tem vontade. Sensível e durona, teimosa e manhosa: HUMANA.

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