Perdoar não significa que quem te faz mal merece perdão, mas sim que você merece paz.

Era o ano de 1961 quando Jonh Lewis, hoje uma lenda pela luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, foi espancado brutalmente num pequeno povoado chamado Rock Hill. Seus agressores, membros da Ku Klux Klan, torturaram Lewis e seu amigo, depois deixaram os dois abandonados encharcados de sangue. O “delito” de Lewis havia sido ser afroamericano e ter entrado numa sala de espera para gente branca durante o segregacionismo.

Em 2009, Jhon Lewis recebeu uma inesperada visita em sua oficina. Elwin Wilson, um antigo membro do KKK e um dos homens que lhe atacou, pediu desculpas e perdão pelo que havia feito. Jhon Lewis, quinze anos antes, havia escrito para o The New York Times que era necessário perdoar George Wallace, o ex-governador segregacionista do Alabama, fez o que lhe fazia sentido: Perdoou seu agressor.

Trata-se de uma história famosa, porém muitas pessoas comuns também perdoaram seus agressores. Estas pessoas estavam convencidas de que o perdão, na verdade, libera a elas mesmas, devolvendo a paz e a serenidade que necessitam para seguir adiante.

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Jhon Lewis à direita, e o personagem em sua homenagem no Filme Selma.

Perdoar o que não se pode esquecer.
Algumas vezes sofremos situações difíceis de esquecer. Podem se tratar de grandes ofensas ou humilhações, incluído pessoas queridas que nos causaram grandes decepções, castigo que não merecíamos, lealdades traídas… A lista pode ser muito longa.

Nestes casos, é compreensível que, durante as primeiras fases, sentimos uma grande frustração, mágoa e ira. Durante esses momentos de dor profunda, não podemos sequer pensar na possibilidade de perdoar o que consideramos imperdoável. A simples ideia de perdoar gera uma rejeição imediata porque na nossa cabeça, a pessoa que nos machucou tem uma dívida conosco e queremos ser pagos.

Porém, se alimentamos esses sentimentos, faremos muito mal a nós mesmos. Não podemos cometer o erro de guardar rancor e esperar que a pessoa que nos magoou sofra com isso. Muitas pessoas acreditam que odiando seus agressores, estão devolvendo o que fizeram. Claro, trata-se de um pensamento mágico, uma ilusão.

Como dizem, alimentar o rancor é como tomar veneno e esperar que o outro morra. Nos castigamos com a secreta esperança de que este castigo, sem sabermos como, nem quando, converta-se em dano a quem nos machucou.

O perdão como ato de auto-liberação
Paul Boese disse que o “o perdão não muda o passado, mas amplia o futuro”. Perdoar significa cortar uma relação que está nos fazendo mal, e retomar o controle sobre a própria vida.

O ato de perdão muda a relação que começou com o dano. Quando uma pessoa nos magoa, ela se apossa da nossa vida e ocupa nossa cabeça. Enquanto não viramos a página, estamos de certa forma vinculados a nosso carrasco. Perdoar significa romper a dinâmica que alimenta este vínculo.

Por tanto, o perdão é uma forma de sair dessa transição que limita nossa vida. Quando fomos vítimas, nos tiraram o poder que o ato de perdoar é capaz de recuperar. É dizer “Fui magoado e sofri muito por isso, porém a partir de agora você não tem controle sobre mim”, porque os sentimentos negativos que experimentamos e nos mantiveram amarrados, desapareceu.
Perdoe quando estiver preparado, mas antes tenha o cuidado de preparar-se para perdoar.
O perdão leva tempo porque quando uma ferida é feita em nós sempre há incerteza, não conseguimos ver com clareza e encontrar um sentido para o ocorrido. Experimentamos dor, sofrimento e confusão.

Estas emoções são espontâneas e naturais, mas o quanto antes precisamos começar a nos prepararmos para perdoar. É importante ficar atento a evolução dos nossos sentimentos, porque a ira, a vingança, bloqueiam nossa razão e podem nos tornar semelhantes as pessoas que nos agrediram.

Ficamos como escravos da nossa ira e serventes de nossa dor. Toda nossa visão de mundo e relações são afetadas. Por isso, é importante se preparar para perdoar, caminha passo a passo, em direção a uma vida mais livre.

O Perdão tem seu próprio ritmo. Não é necessário violentá-lo. Porém também devemos trabalhar para nos asseguramos que estamos trabalhando para curar essa ferida.

*Não se esqueça. Fazer todo esse movimento sozinho nem sempre é proveitoso. Procure a ajuda de uma psicoterapia com um profissional capacitado.

Imagem de capa: Mayer George/Shutterstock

Texto traduzido e adaptado de Rincón Psicologia por Psicologias do Brasil, página parceira CONTI outra.



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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