No fundo, fundo, somos um bando de crianças assustadas… e perigosas!

Temos intelecto, temos sentimentos e temos desejos. Somos seres complexos e ricos em recursos. Então, por que as coisas dão tão errado para nós? Por que permanecemos embirrados, sentados sobre nossos calcanhares orgulhosos e teimamos em esperar que alguém venha nos valorizar, que alguém venha nos render graças por nosso tão singular valor?

A resposta é uma mistura antagônica de autocomiseração e arrogância. Ora, nos sentimos incapazes de remover de sobre nossas cabeças, montanhas ilusórias de fardos insuportáveis. Ora, acreditamos ser superiores a todo o resto da humanidade, melhores, mais corretos, mais valorosos; e, por isso, escolhemos esperar. Esperar que uma estrela caia do firmamento, que um anjo venha nos salvar, que o céu se renda à nossa vontade.

Todos nós temos capacidade para reverter nossos comportamentos errantes, por meio de nossas aprendizagens pessoais, por meio das experiências de regozijo ou sofrimento. Todos nós temos as ferramentas adequadas para estabelecer uma relação mais assertiva e harmoniosa, apaziguando dentro de nós, nossas luzes e nossas sombras.

Quando não reconhecemos nossas próprias feridas, quando não cuidamos delas, quando não assumimos que a nossa cura é de nossa própria responsabilidade… entramos num jogo viciado e perigoso, por meio do qual nos perturbamos mutuamente, numa dinâmica de transferência de dor, que nunca terá fim.

O fato é que da forma como nos isolamos uns dos outros, acabaremos congelados em ilhas de individualismo. Ficaremos fadados a uma solidão que outrora desejamos sob a justificativa de merecermos a paz, a paz da ausência de perturbação do outro que não nos entendem, a paz do silêncio abençoado, livres do ruído daqueles que não merecem a nossa voz.

Quanta ilusão! Ainda que chegássemos à sofisticação de termos um planeta para cada um. Ainda que nos convertêssemos todos em pequenos príncipes, apaixonados por nossas rosas perfeitas… Ainda assim, acabaríamos um dia por sucumbir à nossa essência original, segundo a qual, somos seres gregários, necessitamos uns dos outros, por mais que acreditemos que esses outros são tão difíceis de conviver.

O caos em que vivemos, assim como tudo nessa vida, é temporário. O caos significa que as estruturas do mundo estão se adaptando, as engrenagens da Terra estão em movimento constante, numa trajetória de evolução. E cada um de nós é feito das fibras do bem e do mal; faz parte da nossa natureza oscilar entre sucumbir à satisfação de nossos caprichos e assumir a nossa missão maior neste mundo.

Cuidemos apenas de sermos uma presença útil nesse planeta. Não nos acomodemos. Não ofereçamos ao outro as rédeas da nossa vida, sob o pretexto de sermos frágeis demais, ou desapegados demais. Não rejeitemos a nossa capacidade intelectual de transmutar as relações de poder em laços poderosos de transformação.

O nosso destino é incerto; é verdade! A nenhum de nós é dado o poder de prever se nossos esforços resultarão em sucesso ou em fracassos; isto também é verdade!

No entanto, o passo que escolhermos dar, a partir do momento em que finalmente assumirmos a responsabilidade pelo nosso futuro, não haverá destino que se revele imutável, não haverá sucesso que sirva de alimento, sem ter em si o propósito da evolução de todos. E o fracasso?! O fracasso só nos alcançará se, mesmo tendo tido a oportunidade de ainda estarmos vivos depois de anos habitando esse mundo, permanecermos nesta postura birrenta, segundo a qual nos negamos a evoluir. O fracasso será o prêmio merecido àqueles que teimarem em acreditar que para se conseguir aquilo que se deseja, vale tudo. Inclusive subjugar o outro.

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E vocês, leitores, o que pensam disso? Comentem conosco para crescermos juntos!

Imagem de capa: Victoria Chudinova, Shutterstock



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"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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