De vez em quando um “deixa pra lá” faz milagres, e nos liberta a prosseguir

Faço o tipo certinha. Preocupada em não levantar polêmicas, me desviar de discussões acaloradas e tentar não desagradar ninguém. Prefiro o comodismo da imparcialidade à agitação do enfrentamento. Troco a necessidade de ter razão pela minha paz, e evito ao máximo me expor de forma que possa me arrepender depois. Porém, todo comportamento tem um preço. E o ônus de ser tão ajustada é sofrer quando alguma coisa sai dos eixos, e não ter a ginga necessária para sair ilesa de situações inesperadas, que invariavelmente ocorrerão.

Como boas meninas e bons meninos, fomos educados a não responder, a sermos cordiais e obedientes, a aceitar as frustrações com resignação, a controlar nosso gênio indomável, a engolir sapos e abrir mão de nossas indignações. Ninguém nos ensinou a chutar o pau da barraca, a dar de ombros, a tapar os ouvidos e exorcizar nossos incômodos. Porém, de vez em quando é necessário. De vez em quando um “deixa pra lá” faz milagres, e nos liberta a prosseguir.

Dia desses me deparei com uma música ótima da Lily Allen e não me contive. Dancei no mais alto som dentro do meu quarto, como não fazia há tempos. De porta fechada, cantei o refrão com vontade, dando um “deixa pra lá” a tudo o que ainda me afeta de forma desproporcional. Pra uma pessoa certinha como eu, foi uma libertação. A música, intitulada “Fuck you”, (com o perdão da palavra), foi feita para o ex presidente dos Estados Unidos, George W Bush; mas Lily incentiva a todos a entrarem no clima, como uma catarse. Juro que me senti mais leve; cantando, dançando, gesticulando e pensando em tudo aquilo que eu queria deixar pra trás.

Tudo tem um limite. E de repente, num dia qualquer, você acorda e se pergunta porque ainda dá tanta importância àquilo que te magoou, oprimiu ou te prende a um passado que não existe mais. Você começa a questionar as razões de ser tão perversa consigo mesma; de deixar que bobagens tão pequenas lhe tirem a leveza; de autorizar que minúsculos acidentes lhe desviem do curso perfeito de sua vida.

É preciso redimensionar os fatos. Parar de fazer “tempestade em copo d’água” por pouca coisa e tratar de atribuir menor significado aos acontecimentos ruins. Se fulano não te quis e isso está te dilacerando por dentro, comece a prestar atenção ao valor que você está dando a ele. Será que ele é tanta areia assim? Será que você não está supervalorizando alguém que não vale nenhuma lágrima sua? Será que não é hora de deixar pra lá? Simplesmente deixar pra lá?

Somente quando nos permitimos “deixar pra lá”, percebemos nossa força, nossa própria luz, nossa confiança e capacidade de superação. Descobrimos, com uma ponta de admiração, que sobrevivemos, que esquecemos, que seguimos adiante.

O problema é que muitas vezes nos apegamos às dores, mágoas, tristezas e traumas, como se isso desse significado a nossa vida. Planejamos pequenas vingancinhas, desejamos estar fortes para revidar, amarguramos palavras não ditas e cultivamos ressentimentos sem nos dar conta que o lado bom da vida só vai ter espaço em nossos dias se a gente deixar. Se a gente conseguir “deixar pra lá”, mandar tudo “praquele lugar”, dançar até ficar sem folego e enfim desapegar.

Quero ter ginga e jogo de cintura para sair ilesa dos pequenos arranhões da vida. Quero aprender a rir das pequenas peças que o destino me pregar e conseguir ter molejo diante das travessuras da existência. Quero valorizar o que merece ser reverenciado e conseguir dar um basta ao que me aprisiona, magoa ou fere. Que minha busca por leveza me liberte dos antigos nós e que, cheia de bom humor e renovada coragem, eu possa chutar o pau da barraca, dançar de olhos fechados, e finalmente repetir em alto e bom som o refrão de Lily Allen que diz: “Fuck you”…

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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

13 COMENTÁRIOS

  1. Estou cheia de bancar a boazinha que cuidadosamente tenta da melhor ou penso ser a melhor forma possível para NÃO magoar marido,filhos, amigas,AMOR e quase NINGUÉM está nem aí com meus sentimentos. Chega. Nedse desabafo expresso minha indignação com essa minha VIDA. De tudo que fiz o mínimo que mereço é uma explicação convincente. Para EU ENTENDER o que estou ESPERANDO e principalmente quem estou ESPERANDO. Mais ELES vão sentir minha falta. Se tudo der certo vou embora para outro estado. Já falei com minhas primas para mim ajudar nós primeiros dias. Se EU passar mesmo na seleção desse segundo processo o próximo mês no final estarei mudando minha VIDA. De lá ajudo meus filhos. E meu AMOR vai permanecer em mim no meu CORAÇÃO ?? ELE sabe que tentei mais NINGUÉM pode julgar a sua ESCOLHA. Se ELE quisesse teria me procurado como tantas vezes DEUS sabe que EU procurei NÃO Liguei porque ele sabe que o telefone o tempo todo com a pessoa que não pode atender. fiz minha parte.

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