Cadê você no meio dessa bagunça?

Tem dias que eu queria deitar a cabeça no teu ombro e me esquecer ali, quietinha. Ficar me embalando no ritmo da tua respiração, enquanto você cantarola alguma coisa bem baixinho no meio dos meus cabelos. Eu me enrolaria o tempo que desse, torcendo para o tempo não voar tão depressa. O tempo sempre foi sacana com a gente, percebeu? Lento demais tão longe, rápido demais tão perto. Ironia.

Tem dias que o coração se espreme apertadinho e deixa um nó bem gigante na garganta. Engulo as lágrimas, as palavras, as saudades, as vontades, as loucuras. Desce amargo. Embrulha estômago. Vou dançando nas horas que passam, atuando daquele jeito que todo mundo faz: sorriso no rosto, — tudo bem? Tudo. Abraço daqui, um copo d’água. Normal. Normalíssimo – e não devia ser.

Às vezes nem é nada demais, sabe? Só o tempo atropelado, confundindo demais. É o caos no meio da bagunça. Ou uma bagunça ainda maior no meio do caos, sei lá. É como se um vento danado viesse e soprasse aquilo que já estava bagunçado, espalhando sentimentos, palavras, papéis, memórias por todos os lados. Eu tinha me acostumado com a desordem, porque sabia onde estava cada coisa – ainda que fora do lugar. Agora tá tudo fora do lugar e eu não sei onde cada coisa está.

Então eu sento e procuro, ficando levemente ansiosa no meio de tanto procurar. Tem umas partes de mim que eu não via, tem outras que não lembro quando vi. Tem umas que não reconheço e acabo jogando fora – não faz mais sentido estar ali. Eu sento sozinha – sempre sozinha – no meio dessa bagunça e sinto um vazio enorme. Não reconheço onde estou. Não reconheço como estou. Tudo se torna um gigante estranho a minha volta.

Nesses dias eu tenho uma vontade imensa de deitar a cabeça no teu ombro e me esquecer ali, quietinha. Ficar me embalando no ritmo da tua respiração, enquanto você cantarola alguma coisa bem baixinho no meio dos meus cabelos. Eu me enrolaria o tempo que desse, torcendo para o tempo não voar tão depressa… Ficaria ali, tentando encaixar cada pecinha que saiu fora do lugar. Não seria sozinha e talvez não tivesse mais (tanta) bagunça.

Ah, e tiraria a pilha do relógio, só para nos atrasar…

Imagem de capa: Art_Photo, Shutterstock



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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