Sabe a vida do outro? Então, ela não é sua.

Em tempos de redes sociais a vida do próximo tornou-se a novela necessária para muitos. Em meio à muitas postagens, fuçando silenciosamente, existem algumas pessoas intituladas como “recalcadas”. Essas pessoas fuçam insistentemente a vida do próximo com o objetivo único de alimentar sua inveja e atacar os outros, movidas por essa força maligna. Já observou que estas pessoas sempre têm a pauta completa da vida do outro e permeiam seus assuntos apenas por esses tópicos?

Após perder horas do seu dia, caçando, investigando e xeretando a rede social do seu alvo; o recalcado começa os ataques, que podem ser indiretas, diretas, comentários nas fotos, enfim, todo tipo de despautério que se possa imaginar. Importante notar que o recalcado pensa que possui o direito sobre a vida do outro, o que nos deixa, no mínimo, intrigados.

O recalcado sente raiva porque seu alvo “posta demais”, posta 30 fotos no mesmo dia e, estranhamente, o recalcado viu todas, até curtiu a maioria. Ele também não gosta da ostentação do seu alvo, afinal “Fulana só pode viajar para este lugar porque deu um golpe do baú num velho rico” e “essas roupas ridículas que ela usa? Será que ela pensa que é bonito ser feia?”. Também sente revolta da sorte que seu alvo tem, afinal se ele alcançou aquela vaga de concurso ótima foi pura sorte. O recalcado “sabe” que aquela falsa bondade que o outro mostra é para sustentar uma máscara e um dia vai cair. E vejam só, o alvo do recalcado é feliz estando gordo ou magro; pobre ou rico; bem vestido ou de qualquer jeito e isso é pura felicidade falsa de rede social que irrita o recalcado.

Uma coisa a sempre ser lembrada é que o recalcado não tem coragem de ficar com o velho, mas morre de vontade de viajar pros mesmos lugares, usar as mesmas roupas; não abre um livro para estudar, mas não entende como seu alvo tem aquele emprego bom. Ele não tira uma foto, porque se odeia e quer que quem tira foto, se auto odeie também. Ele não faz o bem, NUNCA, mas fica revoltado com o seu alvo fingindo altruísmo e caridade.

Pessoas felizes e realizadas gastam seu tempo consigo mesmas, ou seja, elas se ocupam em ser felizes e não em espiar a vida dos outros para alimentar a própria inveja. Pessoas felizes vão lá e realizam. Isso não significa que essas pessoas não tenham momentos ruins, provavelmente elas têm momentos péssimos, mas isso não as faz cair, isso as torna mais fortes. Pessoas felizes não passam o dia fuçando rede social dos outros, porque essas pessoas sabem que tempo é sagrado e que deve ser investido em algo produtivo. Talvez essas pessoas irritem aqueles que não têm prazer em viver. Irritam com suas fotos em excesso, suas palavras otimistas e seu sorriso sempre estampado no rosto, mas sabem de uma coisa? Isso tem solução.

Sabe a vida do outro? Então, ela não é sua. Uma solução simples e prática: exclua quem te incomoda da sua rede social. Se o outro te incomoda demais porque posta muito, o quê mesmo você quer vigiando tudo que ele posta? Olhando todas as fotos para fazer um comentário mental maldoso? Se te incomoda ele ser gay, ser yuppie, geek ou qualquer outra coisa que somente você se incomode com isso, por que mesmo que você não exclui? Se ele realiza tudo que você sente vontade, por que você não tenta alcançar as mesmas coisas? Por que não se esforça para conseguir ter sucesso? Se ele tem inveja de você – essa é a melhor, porque muitas vezes o outro coitado nem sabe que o recalcado existe e muito menos que pensa isso – por que você simplesmente não o bloqueia para que ele não te veja?

A verdade é que algumas pessoas não vivem sem isso: sem vigiar a vida do outro e se sentir pessoalmente atacados. Este é o alimento diário que faz estas pessoas viverem. Assistir a vida do outro, falar mal, pensar mal e acreditar que poderia fazer tudo melhor se estivesse no lugar do outro é a vida dessas pessoas. O recalcado se alimenta de inveja fake, coloca na mente fantasiosa que o outro o inveja e o cutuca o tempo todo. Até mesmo se o outro postar a foto de uma roupa nova, significa que a roupa foi comprada para lhe ferir, para lhe humilhar ou porque teve inveja do gosto maravilhoso do recalcado e quer sempre se sobressair a ele. Quem disse que o outro sabe quem é o recalcado na vida? O outro é uma verdadeira vítima.

Portanto, às vítimas desses pequenos sociopatas do mundo virtual só posso dizer que sigam em frente, com sua felicidade intocada e deixem que eles se destruam por si sós. Os recalcados conseguem recalcar-se até de si próprios, afinal, uma pessoa dessas não pode conhecer o amor próprio. Em tempos de rede social, a felicidade e o sucesso não apenas incomodam, ofendem. Sigamos ofendendo!

Imagem de capa: tommaso79, Shutterstock



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Rândyna da Cunha nasceu em Brasília, Distrito Federal, em 1983. Graduada em Letras e Direito, trabalha como empregada pública e professora. Tem contos publicados em diversas revistas literárias brasileiras, como Philos, Avessa e Subversa. Foi selecionada no IX Concurso Literário de Presidente Prudente. Participou da antologia Folclore Nacional: Contos Regionalistas da Editora Illuminare e das coletâneas literárias Vendetta e Tratado Oculto do Horror, da Andross Editora- http://lattes.cnpq.br/7664662820933367

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