Fellipo Rocha

O amor não tem ponto final

Eu nunca imaginei que teria que me despedir um dia. Separar-se de alguém que lhe fez algum mal é difícil, mas, ter que aturar os dias sozinho, longe do amor da sua vida, beira o insuportável.

Tenho tanto para lhe agradecer que seria tolice tentar enumerar cada uma das vezes em que fui melhor contigo. Aprendi tanto ao teu lado que, dificilmente, passarei um dia sequer sem que a tua lembrança invada a minha vida, em cada pequeno gesto que partilhamos, nestes que foram os melhores meses da minha curta e desvairada existência. Nunca, em momento algum, conheci alguém tão brilhante quanto você e, lamento profundamente não poder continuar partilhando da luz que emana do teu íntimo. Sei que a alegria de dividir uma vida ao teu lado jamais será superada. Nem que choremos um oceano de saudades e, nem que este oceano transborde e alague todos os continentes, nem mesmo assim, a tristeza da falta que sentiremos será capaz de ser maior que a felicidade de termos sido um só, um dia.

Cada uma das canções que eu fizer, cada um dos pequenos poemas que eu escrever, cada uma das cidades em que eu passar e cada nova pessoa que eu conhecer, terão uma parte significativa de ti, pois, não tenho a mínima intenção de te esquecer e, nem se eu tivesse, seria capaz de consegui-lo. Guardarei no cofre mais bem protegido do meu peito, cada um dos mais singulares instantes em que nos bastamos, para revê-los sempre que for preciso e abraçá-los todas as vezes em que a tua falta quiser companhia. Haverão dias em que viver não fará sentido, como agora, mas, se ainda posso te pedir alguma coisa, peço que me prometas que desistir nunca será uma opção.

“O importante do amor é que seja infinito enquanto dure”, disse Eduardo Galeano, e neste ponto eu tenho certeza que fomos extremamente bem sucedidos. Tenho um orgulho imensurável da história que construímos e, se por algumas desventuras ela não pôde ser continuada, que ao menos seja celebrada em cada uma das suas gloriosas conquistas! Quando um dia, no seu tempo, a poeira da tristeza baixar, restarão os sorrisos; as discussões intermináveis (sempre vencidas pelos teus aquários, ainda que eu só admita agora); o suor das nossas mais deliciosas intimidades; as séries que nos fizeram refletir e – as vezes – querer desistir da vida; os melhores beijos que alguém pode ter; a vontade de largar tudo e fugir num motorhome e, principalmente, a companhia mais maravilhosa que já tivemos o prazer de usufruir. Tudo isso e todas as tantas outras coisas que nos compuseram durante este tempo, são as partes que fazem do nosso amor a única coisa que realmente importa e, tenho absoluta certeza de que, jamais, nos esqueceremos do quanto fomos felizes e do quanto nos doamos.

Sinto que cada uma das dores que farão parte da nossas vidas durante este próximo capítulo, fazem parte do preço que pagamos por não sermos rasos. A profundidade é uma dádiva e uma maldição. Tempos difíceis virão, mas, estes nos farão passarinhos e, um dia, num futuro não muito distante, as memórias que nos causarão dor agora, serão as mesmas que nos ajudarão a reconstruir as nossas asas.

Muito obrigado por tudo, eu sempre, sempre, sempre te amarei.

ps: essa não será a última vez em que escreverei para você.

Imagem de capa: Anatoliy Cherkas, Shutterstock

Fellipo Rocha

Fellipo Rocha é poeterapeuta, músico e idealizador da página Corpoesia. Além disso, escreve pelos sorrisos que perde, todas as vezes em que não sai de casa.

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