Qualquer coisa. Se você sente felicidade fazendo algo, qualquer coisa simples que seja, é porque isso lhe toca o coração, conversa com a sua alma, faz a vida valer a pena. Não é pouco. E quando a gente encontra o que nos faz feliz, a gente não larga por nada nem por ninguém. Pelo menos não devia.
Mas o mundo vai cheio de gente repetindo que por amor a alguém se faz de tudo, até abrir mão do que nos faz felizes. Pode haver contrassenso maior do que esse?
Então você imagina uma pessoa que adora dançar, foi feliz a vida inteira dançando e, de repente, deixa de fazê-lo porque seu marido, sua esposa, namorado, namorada ou algo que o valha “não gosta”. Eu conheço meia dúzia.
Tem gente que abandona planos, sonhos, projetos, pessoas queridas, velhos hábitos, tudo, porque foi obrigada a escolher entre uma coisa e outra. Ou faz o que gosta e o que quer da própria vida ou decide vivê-la ao lado de alguém que exige sacrifício, escolha, concessão, entrega e essas coisas que pertencem ao mundo dos contratos, não dos amores. Deus me livre e guarde!
Não sei você, mas eu não deixo de fazer o que me faz feliz para fazer feliz outra pessoa nem que a vaca tussa! Não descubro um santo para cobrir o outro, não. Eu, hein!
Deixar para trás algo que me dá alegria só para satisfazer a vontade egoísta de outro alguém é um gesto burro e maldoso comigo mesmo. Em sã consciência, não faço o que faria de mim um sujeito infeliz.
Se a felicidade do outro depende da minha infelicidade é porque somos incompatíveis. Não devemos ficar juntos. Melhor é seguirmos cada um o seu próprio rumo. E a felicidade há de nos encontrar no caminho.
Tem nada, não. Todos somos incompatíveis aqui e ali. Nossas discordâncias são inevitáveis. Discordar é saudável e quase sempre se pode negociar e fazer concessões em nome do bom convívio. No entanto, certas coisas são inegociáveis e cada um sabe, lá no fundo do coração, até onde pode ceder.
Para mim é muito simples. Se aquilo que faz você feliz não faz sentido para quem você ama, vá amar outra pessoa!
Brigar para quê? Por que motivo investir energia tentando convencer o outro a aceitar que você seja exatamente quem é, que faça o que lhe toca o coração, que siga fazendo o que ama e concilie os seus gostos e as suas preferências com as responsabilidades de seu relacionamento amoroso? O outro já devia ter se tocado faz tempo!
Aqui, entre nós, se aquele com quem você decide caminhar não respeita agora o que você faz, não se iluda achando que isso vai mudar: ele não vai respeitar nunca! O tempo não vai amansá-lo nem demovê-lo da ideia ridícula, cruel e ególatra de impedir você de fazer o que gosta, de ser quem você é.
Sei lá. Eu só acho que se é tudo questão de escolha, eu escolho ficar longe de quem me obriga a escolher.
Imagem de capa: BlueSkyImage, Shutterstock
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Belo discurso. Bem condizente com esta modernidade líquida e estes relacionamentos líquidos, apontados por Zygmunt Bauman, onde deixa-se de amar um para amar outro num estalar de dedos.