Aproveito minha ausência das redes e a temporada sem escrever para falar sobre algo que sempre me intrigou. A famigerada frase: E aí sumida, tudo bem?

Nunca entendi a motivação dessa pergunta, ainda porque ela quase nunca vem acompanhada do sentimento de saudade genuína ou da percepção da ausência (de fato).

Poderia falar que a intenção muitas vezes será trazer à mesa um papo velho e descabido de que não há mais empecilhos, e que agora as portas estão abertas e o caminho livre.

Vamos nos pegar?

Mas não. Gostaria de falar sobre um outro lado disso, do motivo (real e oficial) daqueles que somem. Por escolha ou não.

Outro dia, em um grupo de conversa, citei a deficiência que se instalou na sociedade. Nos tornamos leigos no quesito “olhar nos olhos”. O que é péssimo, uma vez que o olhar, ainda que tente, não consiga esconder a alma.

A verdade é que a boca ama dizer “tudo bem”, mas os olhos muitas vezes contradizem e gritam “socorro”.

Em consideração ao setembro amarelo, a superação da depressão/suicídio e a luta contra a ansiedade, decidi.

Vamos nos olhar?

Nenhuma das crises pelas quais passei, foram iguais ou motivadas por um mesmo assunto. A depressão, sorrateira e extremamente agressiva, durou cerca de dois anos. Escondi de todos, inclusive da minha família (durante um ano e meio). Tarefa nada fácil, diga-se de passagem. Possivelmente os sete anos em uma companhia de teatro tenha “me ajudado” a disfarçar as dores e conter todas elas nas quatro paredes do meu quarto.

Dezoito quilos perdidos, doze quilos achados. A oscilação de humor e o aparecimento do choro constante (sem motivo aparente) confirmaram o que muitos temem, eu estava doente.

Não havia acompanhamento médico e esse era uma outra forma de me abalar. Até que procurei ajuda, finalmente.

Por sorte ou acaso, a depressão passou. Os pensamentos suicidas (quatro no total) também passaram. Quisera cantar vitória, não pude. Ficou a ansiedade.

Na terapia, a percepção do peso que trouxe (sozinha) em todos esses 26 anos de vida, e como não pude descarregá-lo. A reflexão dos desejos, vontades, medos, anseios e traumas também surgiram na auto percepção e das terapias.

São cinco anos calada – 21 anos passados para entender. Foram olhares escondidos e sumiços constantes, quase ninguém notou. Quisera ter alguém para olhar nos olhos, quisera conseguir compartilhar.

Semana que vem iniciaremos uma nova abordagem por aqui, a Psicanálise foi escolhida e indicada para entender, de forma ainda mais profunda, a minha alma, quem sou e quem fui.

Aos amigos de dor, não se preocupem ou se desesperem, há jeito!
Continuo com a ideia de que psicólogo é pra todo mundo, mesmo lamento.

E como o meu nutrólogo sempre diz: melhor prevenir do que tratar, Bárbara.

Imagem de capa: IRIS Productions, Shutterstock

Bárbara Fernandes

Sempre escrevi em diários, e guardava-os todos para mim. Até descobrir que existiam mais pessoas que precisavam ler. Então, aqui estamos!

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  • É verdade,sempre me dizem essa frase "E aí sumida" o fato é que 99,9% das pessoas que usam essa frase não estão nem aí pra você os outros 00,1% talvez só não saibam um jeito de abordar.

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Bárbara Fernandes

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