Talvez seja um relato de maturidade. Ou não.

Não sei implorar para caber num espaço que, efetivamente, não me cabe. E nem me refiro à espaços pequenos, apertados e claustrofóbicos: me refiro àqueles lugares onde a presença simplesmente não é bem-vinda. Antes eu até tentava chamar atenção, fazia malabarismo com meus sentimentos para ver se, num acaso ou sorte, eles eram notados. Hoje não. Não mais.

Talvez esse texto seja um desses relatos de maturidade. É provável? É. Mas… honestamente? Não quero rotular. Cansei de tentar dar rótulos para tudo o tempo todo. Essa é uma mania muito humana – e completamente desnecessária. Eu só quero expor, porque mesmo eu não forçando espaço, mesmo eu não fazendo tanto malabarismo com meus sentimentos, mesmo eu não buscando por atenção, ainda dói – e mais.

Eu me recolho dentro de mim mesma. Faço um casulo e desfruto da minha própria companhia. Às vezes busco um chocolate quente e começo a me contar histórias, recordar memórias, desenhar nova trajetória, até mudar o rumo, o prumo, o tom. Aprendi a gozar da minha companhia. Aprendi a me ouvir, pelo simples fato de me retirar. Abafam-se os ruídos, intensificam-se os barulhos internos – ensurdecedores, não vou negar.

Nessas retiradas nada estratégicas, pude perceber que atingi um equilíbrio entre chamar atenção para caber e me retirar sem nada dizer. Porque antes de partir, eu tento ficar, sabe? Sinto meus olhos brilharem, implorando. Vejo as meias palavras pairando no ar, esperando serem lidas, entendidas. São súplicas silenciosas. O coração descompassa ansioso – outro pedido que ninguém escuta. Eu entro numa linha de tempo que se arrasta. É o momento, a vírgula, a pausa entre o pedido de ‘fica’ e a cabeça que cadencia: ‘se afasta’.

E vou, porque não insisto caber em um espaço onde não me querem. Eu me dou as mãos, suspirando baixo. ‘de novo você e eu’. A verdade é que eu só queria um abraço, desses que ninguém me dá. Cato as palavras que joguei no ar, escondo a súplica que pulsava no olhar e me retiro, mesmo com a urgência em ficar.

Imagem de capa: Olena Andreychuk, Shutterstock



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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