Tenho deixado as dores de lado pra não perder tempo escrevendo bobagens. Tenho tentado não me deter a pensamentos nada modestos ao esvaziar minhas bagagens. Tenho tentado viver feliz neste mundo de fantasia que eu mesma fui criar. Ainda que com falhas, já que nada é perfeito. Nem eu. Nem seu amor. E nem todo o resto. Medo de abrir a caixa tão bonita e ver de repente que o presente não condiz com a beleza de sua embalagem. Chega de decepções bombásticas. Chega de decisões eclesiásticas a dirigir minhas canções. Desisti de cantar. Parei de estudar. E o trabalho é como ampulheta a contar as horas vividas longe deste país de maravilhas. Ando desempregada de minhas sensações. Pobre e sem recursos estou. Sem tempo até pra minhas bobagens de estimação, minhas escritas incertas. Estrelas que outrora iluminavam meu céu como noite em cidade do interior. Quase sem espaço pra escuridão. Hoje tudo é mais calmo. Quase sem euforia. Coração que desapercebido não se intimida com a artilharia. Sentimento esquecido de um coração que doeu. Que se deixa quieto como guerreiro cansado a observar a imensidão fria do breu.
Crônica do livro “As Maravilhas do País de Alice”, Scortecci Editora, São Paulo, 2008.
Imagem de capa: vandame, Shutterstock
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