André J. Gomes

Velhas certezas só me enchem de novas perguntas.

Imagem de capa: Edward-Ervin, Shutterstock

É… nem sempre as coisas vão para onde a gente quer. Nem sempre a vida acontece como você e eu desejamos. Nem sempre.

Preciso confessar a você que essas velhas certezas só me enchem de novas perguntas. Amigos verdadeiros nunca faltam mesmo? Amor de verdade não acaba? Só uma mãe entende um filho? O perdão é um privilégio das almas elevadas? Quem sabe? É que eu tenho a impressão de que as verdades de cada um nunca foram, assim, tão absolutas, austeras, esbanjando sisudez. As minhas, pelo menos, andam de tênis. Caminham por aí, pisam nas poças, mudam o percurso, tropeçam, voltam, seguem de novo.

Você sabe. Nem sempre é tudo tão ruim nem tudo tão bom. E nem sempre conseguimos escapar de um macambúzio mais ou menos.

Não, nossos melhores parceiros não são infalíveis. Hoje nos dão a mão, amanhã nos dão de ombros. Porque ninguém é perfeito, sabe?

Nem sempre um dia duro termina em sono tranquilo, nem sempre a noite é amiga calma, ouvinte dos nossos sonhos, vigiando tesouros profundos enquanto dormimos profundamente

Quer saber? Nem sempre a segunda-feira é ingrata e nem a sexta, um alívio.

Nosso complexo conjunto de exigências, nossos preconceitos e nossos pavores nem sempre dão um tempo e nos libertam para fazermos escolhas simples que num pulo se transformam em monstros, os mesmos que na infância viviam debaixo da cama e agora pulam medonhos sobre nosso colchão.

Uns chegam aqui, outros partem ali. E nem sempre você e eu surgimos a tempo do olá e do adeus. Como nem sempre lembramos datas importantes. Porque nem sempre nos importam as datas que para os outros têm alguma relevância.

Nem sempre somos de todo sinceros, nem sempre a verdade nos sobra e a mentira nos falta. Paciência. Fazer o quê? É assim que é. Os caminhos se perdem, o relógio atrasa, a bateria acaba, a vista cansa, as pernas hesitam, os pés tropeçam, as mãos tremelicam, a cabeça roda, o coração se acinzenta, as expectativas despencam do alto e a alma chora baixinho.

Depois passa. Quase sempre passa. E quem chora agora há de amanhã se flagrar nadando num lago tranquilo de ternura e esperança, com pedras de rancores e pecados no fundo, repousando inúteis sob o limbo do esquecimento.

Mas também nem sempre a gente esquece.

E o amor, ah… o amor, sob a forma daquele estado de entrega tranquila que vem apaziguar uma paixão tumultuosa, nem sempre chega. Nem sempre. Nem sempre.

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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André J. Gomes

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