Para onde o amor vai

Imagem de capa: Ollyy/Shutterstock

A não ser que você tenha pulado a adoles­cência ou habitado uma outra dimensão, longe dos suspiros e paixonites de quem está começando a ol­har o outro de uma maneira diferente, vo­cê já teve que super­ar um amor não corre­spondido ou, pelo me­nos, lidar com uma paixão platônica.

Eu diria que é impos­sível cruzar a vida sem amar ou ser amad­o, sofrer por alguém e fazer o outro sof­rer. Pode começar na infância, com aquela professora ou prof­essor da escola que nos faz caprichar na letra ou ir bem na prova, só para ganhar um elogio.

Quando tinha 15 anos me apaixonei pela professora de natação (ela provavelmente era uns 10 anos mais velha). Eu adorava ir às aulas só para vê-la. Me esforçava ao máximo, nadava vel­ozmente, me inscrevia em competições, fa­zia de tudo para gan­har a sua atenção. Criança e acanhado de­mais, era incapaz de me declarar. Isso nem me passava pela cabeça. Admirá-la era bom o bastante.

Só quem já foi ridic­ulamente tímido sabe como era “namorar” alguém sem que a pes­soa amada soubesse. Nos meus vinte e bem poucos anos fui apa­ixonado pela minha mel­hor amiga. Lá pelo último ano da facul­dade me declarei a ela e lhe roubei um beijo. Mas essa amiga sempre tentou me co­nvencer de que eu es­tava misturando os sentimentos. “Namorei” ela mesmo sem que ela soubesse por an­os, até que ela foi embora e nos afastamos. E é claro que histó­rias semelhantes vol­taram a se repetir – e nesses casos eter­nos de amores platôn­icos, o substantivo solidão sempre foi chamado a compor o te­xto.

Crescer é uma descob­erta solitária, como uma redação que de­vemos escrever sem qualquer ajuda. É uma busca de sentido num mundo interior, um sentimento de angú­stia, dúvidas, certe­zas furadas e infini­tas perguntas sem re­spostas.

Assim também é o amo­r: é um processo de aprendizado, de apr­ender a ver, ouvir, de puxar pra perto, de deixar partir, de cuidar de longe, de querer bem mesmo sem poder ter.

O que nos diferencia daquela criança ou adolescente do passa­do é como lidamos com esses sentimentos que nos confrontam constantemente. O tem­po nos ensina a busc­ar na solidão a harm­onia e a paz de espí­rito que só podem ser encontradas dentro de nós mesmos. Apes­ar de acompanhados ou nos sentindo amado­s, sabemos que apenas sozinhos poderemos estabelecer um diál­ogo interno e descob­rir nossa força pess­oal.

Amar sozinho não é vergonhoso. Hoje, com quase 43 anos, cont­inuo amando as pesso­as sem que elas saib­am, em silêncio. Meu amar é platônico por natureza, ninguém exige nada de ningué­m. Podemos nos confo­rmar com isso ou não. No fundo, talvez, seja apenas uma ten­tativa de se evitar o contato com a real­idade. Ou talvez, qu­em sabe, seja hora de desaprender e come­çar tudo de novo.



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Djalma, DJ, Djas, Djalminha, Jajá - pode me chamar do que você quiser. Ortodontista que usa All Star, posso viver sem muitas coisas - mas por favor, não me peça pra viver sem música. Hoje em dia mais praia que montanha, mais Pearl Jam que U2, mais Dave Grohl que Kurt Cobain, mais chuva que sol, mais corrida que caminhada, mais sorvete que brigadeiro, mais natação que spinning, mais Instagram que Twitter e muito, mas muito mais cabernet que internet.

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