Jéssica Pellegrini

A dor de perder alguém que se ama.

Imagem de capa: Petrenko Andriy, Shutterstock

É contraditório pensar em despedidas. Por um lado, elas são bênçãos de libertação, por outro, ficamos presos na saudade e na falta. É difícil dizer adeus para alguém que não ficamos um dia sem pensar, ou que fazemos planos conjuntos. A paixão causa cegueira, mas o amor não usa óculos. Amar alguém é conhecer todos os defeitos e diferenças, mas ainda assim, fortalecer os pontos fracos e, em nenhuma hipótese, desistir ou abrir mão.

O amor é assim… Não é um gênero ou qualquer atitude. O amor é um sentimento capaz de mover montanhas, resolver o improvável, respirar fundo, manter a calma, descobrir os limites e, mais complexo do que tudo isso, o amor é a soma de dois corações que se habitam em corpos e mentes complemente distintas, mas que se encaixam em perfeita sincronia.

Reflita o quanto seria diferente se algumas coisas, simplesmente, tivessem permanecido. Pense nas chegadas que estão acontecendo, se não fosse aquela partida. Tudo acontece por algum motivo, nem sempre compreendemos de primeira, mas após analisarmos com frieza, todas as peças se encaixam e revelam o que parecia não fazer sentido. A emoção é dominada pela razão. Com o pensamento desacelerado, é possível controlar os sentimentos e agir com mais cautela.

Perder alguém que se ama, é o mesmo que perder-se. Perder-se em momentos, em lembranças, em uma saudade que nunca será preenchida por nada, nem ninguém. Perder alguém que se ama é ficar sem chão, perder a fome, chorar incontrolavelmente. Perder é desesperador e vazio. Parece que estávamos seguindo em linha reta e, de repente, caímos em um abismo. E, quando levantamos, mesmo desequilibrados, encontramos uma enorme bifurcação: do que estávamos prosperando ao lado de alguém e a realidade, nua e crua, do nosso trajeto que devemos seguir. Não é fácil erguer a cabeça depois de um tempo, mas é necessário. É preciso encontrar forças nas próprias quedas, juntar cada pedaço do coração e colar, uma por uma. Reconstruir-se é primordial para a saúde das expectativas. A solidão ensina, o silêncio é sempre resposta.

Perder alguém que se ama, é encontrar-se. Encontrar-se em novos sonhos. É sair da zona de conforto e da escuridão, descobrindo a famosa luz no fim do túnel. Finais tornam-se começos. Sempre há tempo de mudar de casa, de gostos, de jeito, de opinião e, principalmente, mudar-se de si. Reconstruir as paredes de concreto que estão abaladas. Solidificar a sensibilidade. Tudo o que vai embora, parte por algum motivo. Ainda que aconteçam erros, faz parte do ser humano. Permita-se e perdoe. Peça desculpas e conserte, seja lá o que for. Não deixe para amanhã, não espere o depois. O relógio não para até que você faça a sua lista de prioridades, muito pelo contrário. Através de um breve piscar de olhos, muita coisa pode ser alterada. O universo conspira a favor daqueles que sabem o que querem, onde desejam chegar. A reciprocidade existe, mas a covardia também.

Estabeleça uma linha tênue entre o sofrimento e a perseverança. Aprenda a viver com a dor da perda, mas busque recursos para confortar o espaço que ficou em você. Perder também é amar. Temos que abrir mão, para não escorrermos pelos dedos. Aprenda, também, que se a pessoa te ama, ela te procura, não te deixa para depois ou para trás. Ela caminha do seu lado, enfrenta os problemas, resolve o que for necessário. É desgastante se preocupar com alguém que não se importa com você, cansa muito cobrar atenção ou disponibilidade. Quem sente falta faz de tudo para estar junto e, especialmente, tudo para recuperar o tempo longe e não perder de novo.

Se não for nada disso, apenas desista.

Antes desistir de alguém que se ama, do que perder o amor por si próprio.

Jéssica Pellegrini

Nunca confie em uma escritora confusa e romântica. As controversas entre um texto de amor e outro de desilusão, podem causar questionamentos pessoais. Consequentemente, sequelas mais graves.

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