Depositar a própria felicidade em mãos alheias é como dirigir de olhos fechados

Imagem de capa: Dodokat, Shutterstock

Talvez seja um dos maiores sonhos da humanidade essa tal história de “ser feliz”. Mas basta um único instante de reflexão para se chegar a uma singela – porém não simples -, conclusão: ser feliz é das coisas mais subjetivas dessa vida.

A gente fica marcando encontros fictícios com a felicidade. Quando eu tiver um trabalho dos sonhos, serei feliz. Quando encontrar o amor, serei feliz. Quando tiver mais tempo para fazer aquilo que gosto, serei feliz. Quando isso, quando aquilo…

E, sem perceber, vamos nos acostumando a projetar nossa alegria sobre alicerces imaginários e frágeis, dada a sua fugacidade.

O que é, afinal de contas o trabalho dos sonhos, por exemplo? É receber muito dinheiro e “ralar” menos? É ser dono do próprio negócio? É ter no ganha-pão a realização de um talento? É ter mais segurança?

E como é que a gente sabe que encontrou “o” amor? É quando a gente tiver a sorte de ter o melhor sexo e o melhor amigo ou amiga na mesma pessoa? É quando a gente perceber que perdeu o interesse de procurar? É quando a gente tiver a sensação de ter encontrado um lar?

E o que diabos é ter tempo? É acordar mais cedo? É ir dormir mais tarde? É parar de procrastinar? É parar de desperdiçar horas, dias, meses e anos com disputas inúteis?

Não é nada fácil descobrir fórmulas para equacionar questões tão simbólicas da nossa existência. E não é fácil, nada fácil, por uma simples razão: não há fórmulas.

A gente vai se descascando aos poucos. A cada vez que nos permitimos imergir em experiências de vida reais e significativas.

É naqueles dias em que, ao deitar a cabeça no travesseiro, sentimos uma coisa boa no peito – uma plenitude -, por ter reconhecido no suor do trabalho também a essência de uma missão, que temos o prazer de um encontro com a felicidade.

É naquelas experiências de contato físico, em que deixamos a alma exposta dançar ao redor, o corpo amolece tranquilo, porque a excitação, o prazer e a paz se misturaram em beijos, abraços e entregas, que trouxeram pra dentro de nós o sabor, a temperatura e a maciez da felicidade.

É quando, enfim, aprendemos a parar de brigar com o tempo, e compreendemos que é aquilo a que damos valor que vai durar mais e que há momentos inesquecíveis que não passam de um instante, que vislumbramos a face rosada e tranquila da felicidade.

E, por fim, é naquele segundinho de deslumbramento em que juntamos sonho, desejo, intenção e esforço na clareza do reconhecimento de que o nosso destino é metade incerteza e metade da nossa conta, que seremos capazes de acolher a chance de ser feliz, de estar inteiro para partilhar dessa embriagante descoberta com outro alguém. Felicidade é partilha, não é dependência. Porque depositar a própria felicidade em mãos alheias, é como dirigir de olhos fechados, mais dia, menos dia, vai acabar num inevitável desastre.



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"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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