Pamela Camocardi

A falta de atenção muda as pessoas. O excesso dela também.

Imagem de capa: popovartem.com, Shutterstock

Todo excesso é ruim, essa é a máxima da vida. Ninguém gosta de gente boazinha demais, nem romântica de menos. Admira-se o bom senso, o autocontrole, o amor medido. Não a disponibilidade incondicional, a bondade extrema e a carência exposta.

Ser solícito demais assusta, insistência em excesso não gera interesse e carinho demais irrita. Essas atitudes, além de demonstrarem o quão carente a pessoa está, deixam os relacionamentos abalados e frios, já que levam os envolvidos a se distanciarem por medo ou desvalorização do sentimento.

Algo que não aprendemos a diferenciar, no comportamento humano, é o que é considerado razoável (aceitável) e o que é diagnosticado como patológico, visto que muitas síndromes estão disfarçadas de qualidades e bons comportamentos.

O que diferencia um comportamento razoável de um patológico é a intensidade, a repetição em que é cometido e o prejuízo psicológico que isso acarretou no outro. No caso dos bonzinhos existem duas vertentes: o chamado “Transtorno de Personalidade Dependente”, que são pessoas boas que dizem “sim” para tudo, possuem um comportamento passivo e, por medo, são submissas a seus parceiros. Nesse caso, quem sofre é, exclusivamente, o próprio portador da Síndrome, já que seu medo o paralisa de ser independente emocionalmente. E há os “bonzinhos demais” que são pessoas más que, utilizando-se da máscara da bondade, fazem de tudo para conseguirem o que querem. E, claro, um caso é o oposto do outro.

Diferente do que a sociedade prega, entenda: uma pessoa “boazinha demais” não é uma boa pessoa. Sem escolher sexo, pessoas boazinhas demais demonstram desvio de personalidade e, com elas, todo cuidado é pouco.

Há uma frase de Louis Bourdaloue, que diz que “o amigo de todos não é amigo de ninguém” e, convenhamos, é uma das maiores verdades comprovadas. Se profissionalmente, o bonzinho demais é capaz de puxar saco, tapete e o que mais for preciso para atingir seus objetivos, que dirá na vida pessoal.

Sempre românticos, ciumentos e com medo de perder quem dizem amar, consideram-se donos dos parceiros e criam situações que os afastam do convívio familiar, social e profissional. Por não terem os próprios amigos, acreditam que o parceiro também não precisa ter.

Geralmente, pessoas com esse tipo de comportamento são extremamente carentes e possuem pânico da solidão. Fogem de dias nublados, chuvosos e domingos à noite sozinhos como um cachorro foge do banho.

A pessoa “boazinha demais” é emocionalmente instável e procura no outro a validação por seus atos. Com uma compulsão notável em agradar, não medem esforços para ajudar e para solucionarem os problemas alheios. Doam-se intensamente ao relacionamento e, quando não recebem isso de volta, se iram de forma surreal.

Note: todo homem gentil demais, geralmente é um conquistador em potencial e, ao contrário do que aparenta, trata de forma bem agressiva as pessoas com quem convive. Já no caso das mulheres, a bondade excessiva esconde um poder de persuasão assustador.

Lidar com pessoas transparentes, verdadeiras, honestas é uma dádiva. Pessoas verdadeiras possuem um comportamento estável, reto e equilibrado em qualquer situação. Diferente dos impostores que, disfarçados de cordeiros, enganam, trapaceiam e prejudicam quem ousa entrar em seus caminhos.

A verdade é que todos nós estamos à mercê desses “bondosos” de plantão. Até, porque, não vivemos com um colete à prova de pessoas. Mas, saber diferenciar pessoas boas das pessoas “boazinhas demais” já é um grande começo.

Não permita que a ansiedade te cegue para os sinais. Conviver com pessoas assim é tão perigoso quanto devastador e, como em filmes de suspense, você só perceberá o estrago no final. François La Rochefoucauld dizia que : “há pessoas más que seriam menos perigosas se não tivessem nenhuma bondade”.

Seja inteligente. Aproxime-se dos bons e afaste-se dos que aparentam apenas ser. Como dizia Rubem Alves: “Há pessoas que nos fazem voar. A gente se encontra com elas e leva um bruta susto (…) elas nos surpreendem e nos descobrimos mais selvagens, mais bonitos, mais leves, com uma vontade incrível de subir até as alturas, saltando de penhascos. Outras, ao contrário, nos fazem pesados e graves. Pés fincados no chão, sem leveza, incapazes de passos de dança. Quanto mais a gente convive com elas mais pesados ficamos”.

A decepção é inerente ao ser humano e, provavelmente, nos decepcionaremos muito nessa vida. Mas, acredite, é melhor ser decepcionado com a verdade revelada, do que abraçado com um punhal nas costas.

Pamela Camocardi

A literatura vista por vários ângulos e apresentada de forma bem diferente.

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