Marcel Camargo

Na minha infância, nossa rede social era a rua

Imagem de capa: ESB Professional, Shutterstock

A gente brincava na rua, sem medo, e a gente se virava com muito pouco – umas latinhas vazias, algumas bolinhas de gude, um pedaço de corda -, a gente era feliz por dentro, não importando a riqueza lá de fora.

Não existe quem, a certa altura da vida, não comece a nutrir saudosismo em relação à sua época de infância, de adolescência, de juventude. O tempo traz muita coisa boa, arruma, ajusta, acerta as contas e vem impregnado de saudades – saudades do que se viveu, do que se fez, dos gostos, dos cheiros, das cores, de gente. Nossas vidas são especiais e, por isso mesmo, permanecem junto a nós, aqui dentro, sempre e para sempre.

Quantas pessoas fazem parte da nossa jornada e vão embora, muitas vezes para nunca mais, e, mesmo assim, tornam-se inesquecíveis? Professores, colegas de escola, de rua, de clube, familiares, vizinhos, enfim, sempre sorriremos ao nos lembrarmos de gente querida que passou por nós e deixou magia conosco. Sempre teremos de seguir faltando um pedaço, com lembranças apertadas de quem nos tocou fundo o coração.

Lugares, casas de avós, lares, salas de aula, sítios, muitos ambientes preencherão nossas vidas, muitos deles ficando impressos em nossas almas. Quem nunca sentiu um cheiro, como de grama molhada, que evoca as mais tenras lembranças de algum lugar que volta dentro de nós, trazendo nitidamente cada canto, cada sofá, cada janela, cada recanto de jardim por onde fomos felizes, onde a alegria então era uma constante?

E, embora a infância passe rapidamente – enquanto, tolamente, somos crianças ansiando por nos tornarmos adultos -, ela nos deixa recordações do tamanho do mundo, como se uma vida toda não fosse suficiente para aquilo tudo. A gente brincava na rua, sem medo, e a gente se virava com muito pouco – umas latinhas vazias, algumas bolinhas de gude, um pedaço de corda -, a gente era feliz por dentro, não importando a riqueza lá de fora.

Na verdade, embora nós sempre achemos que o nosso ontem foi o melhor, que nossas lembranças são mais especiais, cada pessoa levará sempre consigo recordações mágicas, lembrando-se com saudade do que viveu, junto de pessoas que valeram a pena. Porque a gente guarda o que alimenta o coração. Porque a gente leva junto do peito quem compartilhou alegria conosco, mesmo que por pouco tempo. É assim, afinal, que a gente se recarrega diariamente e continua seguindo, em busca de ser feliz, na esperança de reviver tudo o que deixou o nosso caminho mais iluminado.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar".

Share
Published by
Marcel Camargo

Recent Posts

Anderson Leonardo, do Molejo, falece após luta contra câncer inguinal. Entenda a doença rara

O mundo da música brasileira está de luto com o falecimento de Anderson Leonardo, aos…

2 dias ago

Mãe e sua filha chamam a atenção por morar há três meses no McDonald’s do Leblon

Há quase três meses, a rotina incomum de duas mulheres tem chamado a atenção na…

2 dias ago

Gato usa parque aquático canino para fazer natação e emagrecer

No abrigo Vanderburgh Humane Society, em Indiana, nos Estados Unidos, uma história peculiar ganha destaque:…

3 dias ago

Linn da Quebrada anuncia pausa na carreira para tratar depressão: “É necessário parar, respirar e cuidar”

A renomada cantora e ex-participante do reality show Big Brother Brasil, Linn da Quebrada, revelou…

5 dias ago

Porsche que gerou acidente fatal atingiu 156 km/h antes de batida: laudo revela detalhes chocantes

Um laudo da Polícia Técnico-Científica revelou que o Porsche conduzido pelo empresário Fernando Sastre de…

5 dias ago

Davi do BBB24 pede desculpas a Mani Reggo em meio a ‘mistura de emoções’: “Manter meu propósito”

No último domingo, 21 de abril, Davi Brito, vencedor do BBB24, recorreu às redes sociais…

7 dias ago