Imagem de capa: Kitja Kitja, Shutterstock

Ah, meu pequeno mundo! Sim, eu tenho um pequeno mundo, meu mundinho particular, onde pinto e bordo do jeito que quero e onde as coisas são como espero. Pode chamar de maluquice ou utopia, mas tenho esse mundo e ele é só meu, mesmo que eu gostaria que fosse de todos. Não é que eu queira um mundo real perfeito, igualzinho ao meu pequeno mundo, só de coisas boas, não, não é isso. Mas eu insisto em crer que nosso mundo poderia ser muito melhor e meu pequeno mundo me ajuda nessa crença.

É meu mundo especial, onde imagino e, assim, tudo é diferente. É meu mundo pessoal que arrumo e ajeito como bem entendo, não (somente) para fugir da dura realidade do mundão lá fora, mas principalmente para recompor a mim mesmo, para alimentar minha alma e sustentar minha crença de que é possível vivermos num mundo melhor, bastando que queiramos e que tenhamos a coragem de imaginá-lo e praticá-lo, mais humano, mais profundo, mudando assim nosso destino e o destino de nosso mundo.

Em meu pequeno mundo, a tristeza é esmagada pela solidariedade dos felizes, flores feridas são adubadas pela compaixão de todos e a dor da solidão é amenizada pelo toque de carinho de pessoas estranhas na rua. Em meu pequeno mundo, tudo é claro e iluminado, mesmo à noite, com a vida não se perdendo no sono das pessoas, pelo contrário: em meu pequeno mundo, acordamos e levantamos e nos encontramos em sonhos, saímos para as ruas, nos abraçamos e iluminamos a escuridão, a vencemos, cada um com sua própria, mas juntos formando uma só luz: a luz do mundo.

Em meu pequeno mundo, as pessoas não se perdem em discussões e bate-bocas sem fim, não brigam e não matam, não roubam e não maltratam, pois a lei maior é o respeito, sim, o respeito, por si mesmo e principalmente pelo outro, por seu espaço e por sua humanidade, que o torna igualmente digno de existir e ser feliz. É o respeito pela criação, pela vida, pela natureza, por tudo que temos de comum, por tudo que é de todos, por tudo que é do mundo.

Em meu pequeno mundo, o amor não é pecado, mas sagrado, guerras terminam em abraços, fofoca vira real interesse, maldade e agressividade se transformam em delicadeza e sonhos viram realidade.

Em meu pequeno mundo, a fome evapora na partilha, injustiças são curadas pela sensatez, o sofrimento é asfixiado pelo afeto, os pensamentos são livres, mas os sentimentos também, e nós pensamos então alto sem medo e gritamos amor cheios de confiança e com a esperança de que este meu mundinho minúsculo um dia vire semente e dê um salto, pipocando para cima e dando mil cambalhotas, explodindo em seguida e espatifando-se em milhões ou mesmo bilhões de pedacinhos, se espalhando e contagiando o mundo inteiro e todo mundo, de modo profundo, transformando-nos naquilo que deveríamos e urgentemente precisaríamos ser: seres que realmente amam!

Talvez assim entendêssemos que Deus, já que somos sua semelhança, é homem (e mulher, tudo junto!) como nós, que então já há um homem no céu e que já está mais que na hora de finalmente (!) começarmos a ser deuses na Terra.

Gustl Rosenkranz

Blogueiro brasileiro residente em Berlim.

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