Menos, mas melhor

Imagem de capa: Freebird7977/shutterstock

A vida é como uma ida rápida ao supermercado. Explico. Morar perto de um supermercado é algo bom, principalmente nos dias de hoje onde se prefere fazer tudo a pé, ou no máximo, trocando o carro pela bike ou Uber.

Você precisa de uma coisa, vai lá e resolve rápido sem muita enrolação. O problema são as tentações que encontramos pelo caminho: aí aquele negocinho que você precisava vai virando, em valores, a compra do mês.

Então quando sou confrontado pelo “sentimento de culpa”(e isso tem acontecido sempre graças aos preços exorbitantes de tudo), vou deixando alguns itens pelo caminho enquanto sigo até o caixa. Parece que surge uma voz intimidadora: “Você realmente precisa disso?”

Tem um filme chamado “Coisas que perdemos pelo caminho”, com a Halle Berry e Benicio Del Toro. A história gira em torno de uma mulher que tem o marido assassinado e perde, literalmente o chão, tentando, com a ajuda de um amigo do ex marido se reerguer e seguir em frente.

Eu sempre gostei do título desse filme: me faz pensar sobre as coisas que deixamos (ou perdemos) durante a vida e como podemos seguir sem elas.

Conforme o tempo passa, como sabemos, nos separar de algo ou alguém importante é sempre parte do processo: mudar de cidade, deixar um emprego, terminar um relacionamento, ver o filho morar sozinho… Basta revirar um álbum antigo de fotos (ou um arquivo do computador para os mais jovens) para nos deparar com pessoas, objetos e momentos que não fazem mais parte da nossa vida.

Eletrodomésticos com design retrô, roupas com estilo dos anos 80, músicas que fizeram sucesso há 20, 30, 40 anos, o retorno triunfal do disco de vinil. Seria todo esse apego ao que se viu, ouviu ou viveu no passado uma maneira de “voltar no tempo”? Algum tipo de busca pela afetividade instalada no passado ou seria certa saudade da própria juventude e de si mesmo?

Resgatar coisas do passado como aquela vontade de aprender a tocar violão, visitar um parente ou amigo que acabou se afastando por desentendimentos banais ou não, respirar fundo ao ouvir uma música que lembra uma antiga paixão, rever fotos de uma viagem memorável, assistir aquele filme antigo da Sessão da Tarde… Acho que jamais conseguiremos viver sem dar uma voltinha no passado. O fato é que o tempo passa, as pessoas mudam, passamos a enxergar o mundo de novas formas, estabelecemos novas metas, encontros e desencontros marcam nossa jornada. No meio disso tudo, deixar algumas coisas pelo caminho não é apenas inevitável, mas necessário. Assim como aquela bobagem calórica super cara do supermercado que você descobre que pode viver sem.

Sim, tudo isso me passou pela cabeça durante uma comprinha besta numa tarde de sábado onde fui abastecer a adega com um cabernet e um shiraz, no supermercado na esquina de casa. Embora eu sempre repita que “envelhecer é uma merda”, eu acredito no tempo (ou pelos menos quero acreditar), que o tempo é nosso amigo, nosso aliado, não um produtor de rugas, doenças e morte. É ele que nos ensina a esperar e mostra o que realmente valeu a pena. Como escreveu certa vez Caio Fernando Abreu: “Não devemos nos perder, somos tão poucos, meu amigo. Cuide bem de você, não sofra sem necessidade.”



LIVRO NOVO



Djalma, DJ, Djas, Djalminha, Jajá - pode me chamar do que você quiser. Ortodontista que usa All Star, posso viver sem muitas coisas - mas por favor, não me peça pra viver sem música. Hoje em dia mais praia que montanha, mais Pearl Jam que U2, mais Dave Grohl que Kurt Cobain, mais chuva que sol, mais corrida que caminhada, mais sorvete que brigadeiro, mais natação que spinning, mais Instagram que Twitter e muito, mas muito mais cabernet que internet.

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