É pau, é pedra

Imagem de capa: THPStock, Shutterstock

Aprendi com a vida que não devemos esperar retorno das pessoas. Quando se trata de seres humanos, o princípio da ação e reação é falho. Quando proferimos uma gentileza, não devemos esperar retorno, ainda que em forma de agradecimento: essa espera, algumas vezes, é em vão. E machuca. Ultimamente venho usando o dar de ombros para os retornos que não recebo. Dói, maltrata, mas cada ferida que cicatriza se transforma numa armadura mais forte, então se ontem doía exacerbadamente, hoje já não mais tanto e, sendo assim, amanhã menos ainda. O que me importa, de fato, é a consciência limpa e tranquila. Faço mais por mim, não mais pelos outros.

Março chegou de mansinho e um pouco tímido. O mês virou sem nem percebermos. Ou talvez tenha sido eu, que imersa naquele emaranhado de pensamentos banais, não vi o mês mudar. A casa está levemente bagunçada e tem um punhado de sentimentos para por em ordem, mas vou levando do jeito que dá. Tiro um pouco de poeira daqui, jogo o lixo fora, Um dia de cada vez, um pouco de cada vez. Sei lá, não gosto de faxina, sabe? Sempre que precisamos limpar tudo de uma vez só, acabamos por, primeiro, bagunçar ainda mais. E tenho medo de não suportar ver tudo fora do lugar, não saber por onde começar, encontrar memórias que não quero lidar… Então vou aos poucos, me acostumando a ver, lentamente, tudo indo parar no seu devido lugar.

Gosto de março. Parece que em março o ano começa para valer. Talvez eu também pense como a maioria dos brasileiros, que dizem aos quatro ventos que o ano começa só depois do carnaval. Mas o fato é que o clima de março me traz a sensação de inícios… As manhãs já possuem aquele cheiro típico de outono, com o ar levemente gelado. Essa micro-felicidade fria se mantém até as oito da manhã. Então é sol e calor, embora não mais tão insuportável.

Gosto de março. Trago a esperança de renovação sempre que março vem e o outono se anuncia. Eu vejo as árvores se despetalarem e, mesmo secas e nuas, continuam imponentes e mestras. Sabem que é preciso deixar ir para crescer e florescer. A paisagem muda e os pés fazem melodia com as folhas secas que atravessam o caminho. E é bonito de ver, é bonito de ouvir.

Março simplesmente chega para se deixar ir. Para se permitir viver.



LIVRO NOVO



Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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