Imagem de capa: Ania Klara, Shutterstock
Ah, se eu fosse mulher como a Fani, por exemplo. Trabalhadora desde cedo, cuidou de todos os irmãos mais novos, conheceu o Ceará e abraçou a vida na volta ao Rio. Teve um filho e passou por maus bocados, mas nunca desistiu. Ainda consegue sorrir todos os dias pela manhã. Ou fosse como a Maria, dos cabelos e dos versos, negra com orgulho e ser humano com prazer. Ah, se eu fosse mulher…
Ah, se eu fosse mulher poderia ser uma Ana, sempre disposta e acreditando no melhor das pessoas. Ou quem sabe uma Adriana, uma que correu atrás do sonho até conseguir realizá-lo, mesmo tendo passado por tantos anos difíceis. Mas tinha gatos. Quem sabe poderia ser uma Bárbara. Porque Bárbara é sinônimo de sensibilidade. Ela sente demais e não fica com vergonha disso. Também cairia bem ser uma Marcele, uma Regiani ou uma Josie, mulheres de fibra e encantos que ninguém pode questionar, não importa o dia. Nem seria justo, diga-se. Mas talvez eu queira ser uma Fernanda, engraçada, esperta e desinibida para felicidades. Se o passado não trouxe o seu melhor, azar o dele. Ah, se eu fosse mulher…
Ah, se eu fosse mulher certamente Ana Beatriz, Priscila ou Sabrina. Mulheres de um coração que não dá para ser medido nem com a maior régua do mundo. Algumas vezes, a vontade de continuar é abalada, mas elas seguem em frente. Sabem que, mais adiante, abraços vão chegar e novos começos surgirão. Ser uma Bruna também não está fora de cogitação, aliás. Mulher que sente de verdade e ama por tabela. Ah, se eu fosse mulher…
Ah, se eu fosse mulher. Mas mulher por todos os lados, por todas as histórias. Como a Dona Marisa, por exemplo. Ficou conhecida por ser esposa de ex-Presidente, mas poucos sabem que, antes de qualquer coisa, Dona Marisa foi mãe, conheceu o amor e acreditou em um mundo mulher. Infelizmente, a vida aprontou com ela uma daquelas que a gente nunca entende. E mais quem? Ah, tantos nomes que seria impossível preencher aqui. Começa da Dona Fátima, senhora com cheiro de vó que tem um bar/mercearia aqui do lado de casa até a frentista do posto, a motorista de ônibus ou cozinheira do restaurante do bairro. Sim, nenhuma delas poderiam ser esquecidas. Nem devem.
Porque se eu fosse mulher, talvez entendesse que apesar tantas histórias bonitas e de tantos laços afetivos eternizados, ainda existem outras que sofrem caladas, sozinhas e, principalmente, injustiçadas – como a jovem de 16 anos, vítima de um abuso físico coletivo. A questão não é somente reconhecer o porquê da mulher ser importante e merecer respeito. O sentimento é genuíno quando finalmente entendemos que as coisas precisam mudar e que sim, se eu fosse mulher, quem sabe, de repente poderia escrever isso tudo e ter a mesma voz como a que estou tendo agora, sendo homem.
Ah, se eu fosse mulher. Mas não sou. O que posso ser hoje é nada mais do que agradecimento e amor por ter convivido com algumas dessas mulheres. Se hoje sou menos homem, arrogante e machista é por causa delas. Se hoje consigo prestar o mínimo de desculpas e esclarecimento pelo certo, também é por causa delas. Ah, se todos fôssemos um pouco mais de vocês e um pouco menos de nós.
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