Do lado de fora do mundo

Imagem de capa: NAR studio, Shutterstock

Você já sentiu que estava do lado de fora do mundo? Quero dizer, já teve a sensação de que as coisas saíram do lugar e algumas sobrevoam sua cabeça sem sentido algum, mas você permanece em outra dimensão? As pessoas se movimentam rapidamente, de um lado para o outro, e a gente mal consegue acompanhar.

O lado de fora do mundo existe e está mais próximo do que imaginamos. Além disso, as pessoas correm mais, isso é verdade absoluta. Fica difícil andar junto quando nosso ritmo está em outra velocidade.

Parece que acontece tudo ao mesmo tempo: o outro lado do mundo e nossa tentativa frustrada de segurar na mão de alguém. Não existe a menor possibilidade de alcançar qualquer pessoa estando do lado de lá.

Mas não há mistério, o lado de lá é só outra parte desse quebra-cabeça que é a vida. E nesse jogo maluco – e cheio de surpresas, vamos tentando juntar as peças para completar o ciclo. Porém, na falta de uma peça já não é mais possível decifrar o enigma.

Viver é esse exercício de descobrir aos poucos, de desvendar detalhes que acabam fazendo toda diferença no resultado final. A grande verdade é que alguns quadros nunca estarão completos. E quanto mais tentamos encontrar essas peças, mais distante elas ficam.

Certas coisas são o que são e pronto. Nada é tão incompleto quanto uma existência vivida para entender os motivos de tudo o que acontece (e do que não acontece). Quem cria a necessidade do inquérito acaba sempre desconhecendo o destino, pois fica ligado demais nos desvios que poderia ter feito. E não fez.

O outro lado é só o outro lado e as peças que faltam são apenas peças que faltam. Nada mais do que isso. Parece tão óbvio, mas não é. Sabe quando que a gente aprende isso? Quando escutamos a música que toca no lado de fora do mundo. E só é possível ouvir essa canção quando estamos em silencio.

Tenho aprendido a ficar em silêncio para entender direitinho essas sensações. E deixa só eu esclarecer: silêncio absoluto, mas um barulhão danado lá dentro, sabe isso? Fora o tambor que faz tum tum descompassado aqui no peito, tem outros sons inquietantes que assombram os tímpanos.

Tenho aprendido a ouvir o que as pessoas não dizem – e elas dizem tanto assim… (Isso pode assombrar o seu tímpano esquerdo, esse localizado no mesmo lado do coração, cuidado!). Detalhes, pequenas sutilezas que não acontecem, olhares que não chegam, telefones que não tocam, ihhhhhh… a lista é longa.

O lado de fora do mundo nos dá a oportunidade da observação, esse sétimo sentido que a gente quase não usa, mas que nos explica muito das peças que não encontramos. Tenho gostado do ditado aquele: silencie e observe por longos períodos.

Silêncio para ouvir o barulho e entender o que ele diz. Vez ou outra essa voz vem de alguém querendo enlouquecer o que já está maluco, mas quase sempre ela acontece dentro da gente, no lado de fora do mundo.

Nem sempre o resultado da observação é do jeito que a gente imaginou, quase nunca é, mas certamente nos poupa de muitas outras coisas que não precisamos sentir, sabe? E se o outro lado do mundo ainda nos chama para uma temporada, só posso dizer uma coisa: é porque ainda não entendemos o que nos leva até lá.



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Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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