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O nosso fim começa aqui

Imagem de capa: Alex Shalamov, Shutterstock

Mais uma noite em que você visita os meus sonhos. Mais um dia em que os meus sonhos não tocam a realidade. Há quanto tempo o meu telefone toca e não é você? Faz muito tempo desde a última vez em que tivemos uma conversa. Mas eu estou melhor assim, bem melhor.

Porque no início, eu confesso, ver meu telefone tocar e saber que era você não fazia muita diferença pra mim. E talvez por isso você tenha insistido, porque eu era indiferente às suas tentativas. Depois, eu fui tendo acesso às profundezas da sua alma e isso foi me envolvendo.

A sua notificação no meu celular me fazia ter pressa de ver, pressa de ler, pressa de te responder. Eu estava me apaixonando. Era nítido, por mais que eu tentasse esconder esse fato. E você percebeu. Talvez por isso você tenha mudado tanto comigo. Até que chegou o dia em que eu passei a ter medo. Eu tinha medo de que o celular tocasse e fosse você. Eu tinha medo do que você fosse falar, do que eu fosse ler.

Fazer contato com você já não me fazia bem. Definitivamente, a cada conversa eu me sentia pior. Pior pela forma como você me tratava. Pior principalmente por saber que a pessoa por quem eu havia me apaixonado estava se desmanchando diante de mim, não existia, era ilusão. Por isso eu me calei diante suas últimas mensagens. Eu tinha me tornado líquida pra uma pessoa totalmente sólida mas isso não te dava o direito de me tratar com descaso, e nem te dava direito de me chamar de dramática diante qualquer demonstração de sentimento ou mesmo de fraqueza. Para o meu “drama” parar eu deveria me calar. E então meu silêncio passou a ser tudo que eu tinha a te dizer. E isso me fez um bem que há muito eu não sentia. Eu me desintoxiquei das suas atitudes frias e egoístas.

Mas não posso dizer que me recuperei instantaneamente. Por algum tempo o preto andou me cercando. Eu me vestia de preto frequentemente. Aposentei os esmaltes vermelhos, só usava preto. Ouvia músicas escuras, me fechava em meu mundinho. Algumas pessoas tentaram se aproximar. Ninguém conseguiu. Me inundei de mim mesma. Me refugiei em uma ilha da qual só eu sabia o caminho.

Eu ainda estou tentando me afastar de tudo. Eu ainda estou tentando afastar os pensamentos que me levam ao mesmo lugar de sempre. Eu ainda estou tentando me afastar das lembranças do seu calor e logo em seguida da sua frieza. Na verdade, eu confesso, que nesses últimos tempos eu tenho tentado viver me convencendo de que você não existe. É mais fácil seguir a vida com a falsa certeza de que não há riscos de te encontrar novamente um dia. Mas eu sei que no fundo é necessário que você deixe de existir é dentro de mim. Eu estou começando a entender que certas coisas apenas começam para um dia terminar. O nosso fim começa aqui.

Nat Medeiros

“Sou personagem de uma comédia dramática, de um romance que ainda não aconteceu. Uma desconselheira amorosa, protagonista de desventuras do coração, algumas tristes, outras, engraçadas. Mas todas elas me trouxeram alguma lição. Confesso que a minha vida amorosa não seguiu as histórias dos contos de fada, tampouco os planos de adolescência. Os caminhos foram tortos, íngremes, com muitos altos e baixos e consequentemente com muita emoção. Eu vivo em uma montanha-russa de sentimentos. E creio que é aí que reside o meu entendimento sobre os relacionamentos. Estou em transição: uma jovem se tornando mulher experiente, uma legítima sonhadora se adaptando a um mundo cada vez mais virtual. Sou apenas uma mas poderia ser tantas que posso afirmar que igual a mim no mundo existem muitas e é para elas que escrevo: para as doces mulheres que se tornaram modernas mas que ainda acreditam nas histórias de amor.”

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