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Tragédia e amor

É claro que o ideal seria que não precisassem acontecer tragédias para que fossemos “chacoalhados” para a vida. Mas, uma vez ocorrido o fatídico acidente com o avião que transportava o time da Chapecoense, fica uma linda lição que não podemos deixar passar batido.

Em poucas horas, pessoas do país e do mundo inteiro se solidarizaram com o ocorrido. Das mais diversas formas, manifestaram apoio e sincero desejo de força aos sobreviventes, aos familiares e amigos das vítimas, ao time e à própria população de Chapecó. Muitos, certamente, nem sabiam direito que time era esse. Mas não importava. Eram pessoas, eram vidas que foram interrompidas, e muitas outras profundamente afetadas. Era impossível ficar indiferente a isso tudo.

A tristeza coletiva desbravou fronteiras. As pessoas, efetivamente, se abalaram com a situação. A rivalidade latente entre os times nacionais, especialmente numa época de final de campeonato, simplesmente cessou. Mesquinharias outras perderam completamente a importância. Nas redes sociais, praticamente só se falava do pesar. Na televisão, homenagens e busca por informações mais concretas prevaleceram durante todo o dia. Na pequena cidade catarinense, o estádio encheu. Não importava se era um dia de trabalho, se não teria jogo algum, se as esperanças fossem mínimas. As pessoas compareceram, para compartilhar a sua dor, o seu silêncio, o seu enaltecimento ao seu time.

E, durante o dia, histórias foram surgindo. Para apertar ainda mais o coração de todos, até dos que não tinham vínculo algum com o time, com a cidade, com aquelas pessoas. Como a do jogador que descobriu que seria pai há poucos dias e estava “pulando” de felicidade. As de algumas pessoas que eram para ter embarcado naquele voo e desistiram ou foram impedidas no último momento. Aquelas falas que antecederam o embarque e pareciam despedidas dos que se foram. Aquela história do membro da comissão que faleceu no dia do aniversário do seu filhinho, e que fez o seu pai perder o segundo filho. A da mãe que, apesar de avisada da queda do avião no qual estava o seu filho, sentiu que ele estava bem, “pois coração de mãe não se engana”, e acertou. A descrição de pessoas próximas de que vários dos que se foram estavam “muito felizes”, “no auge da sua carreira”, “concretizando seu maior sonho”.

Destino? Fatalidade? Carma coletivo? “Era para ser”? “Um grande azar”? Ninguém sabe, verdadeiramente. E não importa. Aconteceu, infelizmente. Mas a mensagem tem que ficar. Tem que marcar profundamente a humanidade, de forma que não se apague.

Toda essa situação nos fez ver que, ao fim e ao cabo, somos todos humanos, somos todos irmãos, somos todos um. A dor alheia vira nossa dor. O desejo sincero à felicidade de quem nem “temos nada a ver” é possível e verdadeiro. Se fecharmos os olhos para essa loucura toda que está esse mundo, enxergaremos com o coração. Vermos que há, no interior de cada um de nós, um amor latente imenso e incondicional.

O que não pode acontecer é, passado algum tempo, esquecermos disso tudo. Deixarmos esse sentimento todo esvair-se. Voltarmos à cegueira. À pobreza espiritual. Ao apego às coisas que não tem importância. À preocupação com status e aparências. Aos conflitos pelo que quer que seja. Ao materialismo exacerbado e ao individualismo. Ao desamor, enfim. Nada disso vale a pena, fazemos parte de algo muito maior.

Por mais problemas que cada um de nós possa ter, estamos vivos, estamos conscientes e cheios de oportunidades e potencial para tudo o que quisermos. Precisamos celebrar a vida, a todo momento. E não nos esquecermos do essencial. Não podemos esperar uma nova tragédia para voltarmos a nos dar as mãos. Definitivamente, não devemos deixar passar esse sentimento tão lindo que pairou sobre o mundo nesse 29 de novembro de 2016. Alguns pode chamar simplesmente de solidariedade. Eu tenho certeza que é amor!

Susiane Canal

“Servidora Pública da área jurídica, porém estudante das questões da alma. Inquieta e sonhadora por natureza, acha a zona de conforto nada confortável. Ao perder-se nas palavras, busca encontrar um sentido para sua existência...”

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