Nosso coração é imensidão

Deixa a mala em casa e sai com a roupa do corpo. Nem sempre peso demais gera conforto. Há quem viva sem muito, há quem se contente com pouco. Se contente com pouco? Pouco para quem? Que direito você acha que tem para discordar que o pouco é muito para alguém? Voltamos ao ponto inicial: esquece o que você tem, presta atenção no que você é.

Não sei o tamanho da sua, mas na minha mala mal cabe a minha fé. Qual é o louco que coloca sentimento no escopo – da vida? Minha demanda é de palavras que traduzem o coração, olha só, sem dó, nem adianta querer guardar o meu na bagagem de mão.

Nosso coração é órgão que vibra, que sente profundo e, quando enclausurado: não respira. Pode até parar de bater se você decidir colocá-lo no fundo de um espaço qualquer. Coração de mulher, então, como que vai caber no bagageiro do avião?

É um espetáculo esse nosso coração. Eu sei, também já estudei o corpo humano, parece mero engano esse papo de imensidão, afinal de contas, é cabeça, tronco e membros. Que lance é esse de coração? Aí não posso interferir, mas lamento essa sua forma de sentir. Tão longe lá dentro da pele. Se esconde nessa camada que calcula o tamanho do que não se pode medir.

Vou tentar mais uma vez: olhe o tamanho do seu peito, com todo respeito, há um mar de sonhos que não cabe aí.

​É como pegar um barquinho e colocar nele o mundo inteiro. Vai afundar, meu amigo. Lá no fundo do mar, onde ninguém vai achar. E então…

Agora olha para cima. Percebeu o infinito do universo? Nosso coração é um verso nesse poema do céu. Veja como rima corajoso, toda hora, todo dia, ora é rei, ora é escravo, ora é réu. Não tente dimensionar com a fita métrica da razão quando o peso e a medida gira em torno da emoção.

Coração é imensidão, é sim! Não duvide assim, acredite em mim: é imensidão! O que mais seria esse cara? Pensa comigo, irmão: coração que chora por amor, mas não desiste de amar. E se apaixona quantas vezes se encantar. Pode encontrar um par para a vida inteira ou, quem sabe, viver ancorando de peito em peito até cansar.

E amar de novo.

Olha que louco, como bate acelerado quando joga a seleção. A cada grito de gol bate mais o coração. Ah, que triste é quando ele chora, pede, rasteja, implora por um pouquinho de atenção. E, ainda assim, quando um amigo precisa nem pensa em esconder a mão, tem amor para todo freguês. Cola a ferida, engole a dor e pronto: lá vai ele amar outra vez.

Tudo bem se não te convenci. É Seu direito o querer medir como se fosse um simples órgão mexendo no peito. Tudo bem, respeito. Mas não vem racionalizar o meu. Tem jeito não, na minha vez Deus estava distraído com os anjos lá em cima. Pulei a razão sem medo, é que nunca gostei de fila. Fui direto para a galera do lado esquerdo, um povo que abraça gostoso, que perdoa se por ventura causar desgosto. É emoção como combustível do corpo.

Nosso coração é imensidão. Um passarinho que refaz o ninho a cada decepção. E começa de novo. E refaz os sonhos que ainda não foram para a lista da realização. E guerrilha quase todo dia pelas flechas da vida. Pela flechada do cupido; pela flechada do amigo, pela flechada além do umbigo…

Vamos colar um coração no outro? O meu com o teu vale mais do que ouro.

É que nosso coração é imensidão.​



LIVRO NOVO



Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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