Romper com os padrões é, para dizer o mínimo, um sinal de inteligência

Se a gente não toma cuidado, acaba virando uma versão humana daqueles hamsters criados em gaiolas, correndo indefinidamente naquelas rodinhas sem saída. Mais um pouco de distração, e já nem identificamos mais ao certo as coisas que gostamos genuinamente. Um tantinho a mais de anestesia, e nos transformamos na cópia de alguma celebridade instantânea ou humanamente inviável do ponto de vista orgânico.

Há quem deixe de ir à praia por estar acima do peso. Há quem torre o cabelo naquelas geringonças metálicas a fim de forjar uma cabeleira sem nenhuma ondulação, por acreditar – de verdade – que isso é absolutamente normal, ou pior, necessário. Há quem pague uma pequena fortuna para ficar com um par de sobrancelhas parecendo símbolos da Nike em cima dos olhos. Vai entender!

Isso sem mencionar as dietas restritivas, reduzidas a 500 calorias diárias, contadas a peso de ouro por clínicas sofisticadas de emagrecimento. Mais os milagres prometidos pelas revistas femininas que vendem imagens de uma beleza perfeita, além de fórmulas infalíveis para que sejamos jovens para sempre.

Confesso que me causa arrepios, ver meninas de trinta anos parecendo que já tem quarenta, por que paralisam seus rostos para parecer que têm vinte. Confesso que já cheguei a perder o sono porque vejo evidentes perturbações de autoimagem em garotas de menos de quinze anos, obcecadas por modelos de corpos que lembram sílfides anoréxicas. Confesso que me recuso a compactuar com isso, e por esse motivo proponho uma insurgência.

Sejamos insurgentes! Procuremos nos conceder algum mínimo grau de fidelidade a quem realmente somos. Busquemos em algum lugar lá bem no fundo, qual é a nossa verdadeira imagem. Sejamos o nosso desenho original, e não uma estampa de imitação, uma réplica daquilo que convencionamos chamar de modelo de beleza.

Numa era marcada pela padronização, romper com os padrões é, para dizer o mínimo, um sinal de inteligência. Porque é preciso ser capaz de pensar com a própria cabeça para interromper a rodinha da gaiola. É preciso acreditar que há uma mulher linda por trás de um corpo com algumas curvas além da média. É preciso honrar as linhas do sorriso, as sardas espalhadas pelos ombros, o brilho dos olhos que só aparece quando eles são capazes de sorrir junto com a boca.

E depois de fazer parar a rodinha, tenhamos a dignidade de dar um definitivo adeus à gaiola. Porque para ser linda, linda mesmo, é preciso ser livre. É preciso pôr um fim ao hábito de se submeter sem questionar. E nunca, nunca mais permitir que um espelho seja o maior responsável por determinar o quanto a nossa beleza é adequada ou descabida. Porque entre ser limitada e ilimitável, eu prefiro mesmo é descaber!



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"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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