Um grito contra a violência

Por Luciane Pires

“Passava das 20 horas e, eu, com meus rasos 12 anos de idade ainda estava na rua de minissaia e blusinha, pés descalços brincando como uma ‘criança’ que era, na quadra de esportes próximo a minha casa… Passava das 4 horas da manhã quando, eu, aos 18 anos, vinha caminhando a pé na madrugada pela avenida, acompanhada de mais duas amigas e meu namorado da época… Era pouco mais de meia noite quando, eu, sozinha cheguei de ônibus daquele pub após a faculdade”.

Cenas narradas com essa tranquilidade já não são mais ouvidas assim sem certo “Q” de preocupação nos dias de hoje. A violência aumentou significativamente nas pequenas e grandes cidades. As redes sociais, os jornais, a mídia televisiva mostram um índice recorrente de casos de morte, estupro coletivo, violência de todos os tipos praticados por quadrilhas, policiais, psicopatas e até playboys sem nenhuma cara de bandido estampada no rosto.

Somente no primeiro semestre de 2016, em menos de um mês, duas tragédias populares ganharam grande repercussão pública nas últimas semanas; no Brasil, o estupro coletivo de 30 homens contra uma menina de 16 anos, onde, apesar de ampla divulgação de imagens do episódio, ainda havia uma grande parcela da população alegando que a conduta da menina era inadequada e provocante, sendo passível resultar no crime hediondo. Em Orlando, EUA, a boate ‘Pulse’ foi invadida por um americano homofóbico que deixou pelo menos 50 mortos por intolerância de gênero sexual.

Não vamos nem entrar no mérito dos crimes sem repercussão que acontecem em larga escala nas favelas de todo o Brasil, dos milhares de animais que são covardemente assassinados em cenas dantescas de especismo [crime contra outras espécies] na exploração de consumo e entretenimento, nem pelos inúmeros casos de violência contra a mulher que são registrados a cada minuto… Todos aqueles sem voz estão morrendo!!!

O que está acontecendo é fascismo. Uma onda avassaladora de pessoas que foram compelidas a berrar sem filtro e responsabilidade sobre aquilo que teclam em seus comentários nas redes sociais, propagando, desmedidamente, e sem nenhum tipo de reflexão, empatia ou misericórdia, a violência – deixando-a banal.

A intolerância está sendo incentivada e fomentada pela mídia, pela igreja e seus pastores, por grupos de “black blocs”. Mas fique claro: os “caras pintadas” não eram isso. Os haters e odiosos que aparecem em cena hoje mais parecem uma nova versão do Ku Klux Klan. São neonazistas travestidos de justiceiros ou lutadores anticorrupção que levantam palavras de ódio em defesa das “pessoas do bem”, como esses movimentos de libertação do Brasil.

Se houver grito de ódio, não estamos no caminho certo.

Há uma onda crescente e sendo financiada pelo tráfico, por políticos e aquecida pela mídia num grande circo que incendeia a violência. E ela é sempre contra os mesmos: as mulheres, os negros, os gays, os pobres, os moradores de rua, os animais.

Não! Não estamos evoluindo. O fascismo nunca esteve tão em alta, a não ser na época em que foi criado. A violência hoje está sendo a forma como “as pessoas do bem” alegam ser o mal necessário para se defender, já que a polícia não o faz. Isso é o caos social. Não é teoria da conspiração, é uma onda viral baseada em ‘Ciência da Influência’, matéria de Comunicação, tática de guerrilha: uma jornalista branca e rica vai ao ar em horário nobre e manda linchar o bandido [sem saber quem é bandido, e quando a maior deles continua solto pelo Congresso]; afinal, quem irá defender as “pessoas do bem”.

Onde está o caminho da paz? Onde foi que deixamos toda a tolerância daquela época onde meninas como eu fui um dia, podiam ficar na rua de minissaia e blusinha, chegar tarde sozinha de um pub após a faculdade, sem que eu merecesse ser estuprada, assediada, violentada por “estar pedindo por isso”.

Não, ninguém está pedindo para ser machucado. Não podemos mais só culpar o sistema; devemos olhar para nós. Quando desejamos que aquela “política(o)” morra, usamos imagens de crueldade na política, na religião ou em qualquer outro cenário, seja lá porque motivo for, estamos fazendo apologia ao crime, incitando o caos, cocriando e propagando esta energia de violência. Não somos isso, não queremos isso. Não queiram isso!!!

As palavras têm poder. Aquilo que você diz, deseja, escreve nas redes sociais impregna o sistema de informação, as ideias, a atmosfera, o mundo. Saia da zona de conforto e pare de culpar o sistema. Simplesmente comece você a ter atitudes e palavras de paz e contamine o mundo com exemplo e inspiração.

Fonte indicada: Ativar Sentidos



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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