O tom do amor

Talvez seja uma fantasia orquestrada desde o início dos tempos essa tentativa quase que desesperada de encontrar o pé ideal para o chinelo desbotado. Uma loucura que nasce nos primeiros passos e falas e vai se estendendo durante os anos, construindo comportamentos, exalando sintomas e sendo, nas causas e consequências, a poesia que nos é destinada. E quando os verbos tropeçam nos advérbios, quando o diálogo repousa nas indiretas e não nos adjetivos, caímos.

Somos frágeis. O coração é soturno quando não obtém respostas. Por que não o amor? Quando penso nos amores passados, enxergo erros que poderiam ser desculpados. Recordo-me de silêncios onde algo deveria ter sido dito e não foi. Mas são suposições de um tempo antigo. Não há como matar o tempo de outrora para recriá-lo da forma que lhe caberia. É o tipo de poder egoísta que não nos é permitido, ainda bem. Porque conviver, aceitar e reconhecer a importância de um período de amor gasto, de repente, é o suficiente para não se aprisionar quando um novo amor surgir.

Amei e quando já não podia mais amar, amei novamente. Porque o amor é renovável, e não reciclável. Você se despe dos trajes escuros, desabotoando feridas, arregaçando lágrimas e olha para o espelho com a sua imagem diante de si e sorri ingenuamente para aquela figura na busca incessante do mais amor. Não é crime admitir que, sem o amor, somos apenas rostos na multidão. Também não se trata de carência, mas de assertividade sentimental. Uma dose após outra de um líquido quente que pode deixar a visão turva, mas as mãos num entrelace certeiro.



LIVRO NOVO



"Cidadão do mundo com raízes no Rio de Janeiro"

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui