Bolhas

Bolhas

Paro para refletir sobre as pessoas em minha vida. Pessoas que vem e vão, ziguezagueando pelo meu viver. Pessoas que surgem quando viro à esquina da minha rotina, que mesmo sem elas terem noção, são paraquedistas que surgem do nada e caem lentamente na bolha de sabão que chamo de vida. Tais paraquedistas, podem ir, na mesma velocidade que entraram, para fora da bolha.

A beleza de uma bolha de sabão mora nas suas cores mutáveis, um arco-íris preso em uma forma geométrica tão interessante, uma essência colorida. O interessante de bolhas de sabão é: podem se encontrar em pleno voo e fazer surgir, sutilmente, uma bolha maior, algo curiosamente novo: um amor, uma amizade, uma família, uma descoberta, um mundo à parte, onde a fragilidade de uma bolha nos envolve com um calor que toca nosso peito.

Quando sentimos isso, amamos. Queremos ficar aconchegados nela para sempre, porém, estamos à mercê do tempo. O tempo será a mão daquela criança curiosa que ao tocar a bolha, com a maior delicadeza, poderá fazer desaparecer o que tanto amamos.

Algumas bolhas sortudas (ou bem nutridas?) são rebatidas e voltam a planar livres pelo ar. Essas, depois do toque, por incrível que pareça, se mostram mais fortes e não aparentam ser tão frágeis assim.

Mas e as que se desfazem? Aquele mundo à parte se foi, a emoção que surge desta perda que é o estourar de algo, parece até que é dentro de nós.

Das bolhas que se foram surgem questões a serem respondidas. Mas por que se foram? Por que não resistiram àquela mão? Questões que surgem e nos fazem grudar, contra nossa vontade, em memórias de bolhas que já se foram. A mente humana adora se divertir por terras que não são as que pisa no momento. Nas palavras de Belchior “o passado é roupa velha que não serve mais”, essa roupa além de não combinar com a nossa essência, aperta a nossa alma. O passado está longe, é irrecuperável. Escolher reviver o que não existe mais é optar pelo caminho da rua sem saída do sofrimento inesgotável às vezes entrelaçado com o prazer efêmero e ilusório da nostalgia.

Ao invés de questionar o porquê de bolhas de sabão estourarem, podemos questionar o que elas fizeram por nós, buscando aprender os ensinamentos maquiados pelas dores de cada estouro.

Com este movimento, perceberemos que todas elas, sem exceção, ensinam algo, até aquelas conflituosas com as quais nos chocamos e fazem surgir discussões e desentendimentos. Percebo que a mão daquela criança curiosa foi um grande presente, pois no seu leve toque, mostrou que as bolhas, as que restaram e as que se foram, vão ser eternamente grandes mestras dos conhecimentos dessa vida, ensinando sobre a nossa própria bolha e a convivência com outras por aí.

E nesse ziguezaguear podemos aprender: o cachorro que teve de ir, com seu jeito dengoso, pode ensinar sobre a felicidade através da simplicidade. Os antigos amores, cada um com sua complexidade, podem ensinar a lidar melhor com os sentimentos complicados que levamos conosco. O parente que se foi, com suas gargalhadas e brincadeiras que colorem os encontros de família, pode ensinar a beleza de se ter uma família.

Creio que o estourar de bolhas seja inevitável e devemos ter consciência desse acontecimento. Outras bolhas poderão ser estouradas, às vezes por nós ou por certa criança curiosa, no entanto, a nossa bolha pode ser nutrida pelos aprendizados de cada estourar, assim, podemos soprar mais uma vez a varinha de água e sabão, parindo uma bolha mais forte e ,adicionando o nosso novo conhecimento, somaremos mais tons à nossa essência arco-íris.

Neste movimento, continuamos vivendo uma vida que se faça valer, com o mesmo sorriso daquela criança que contempla, entusiasmada, incontáveis bolhas de sabão que cortam magicamente os ares.



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Mike A. Mazurek, formado em Comunicação e Mestrando em Comunicação e Práticas de Consumo, futuro professor e escritor pelo prazer da vida.

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