O que aprendemos com os pênaltis

Sábado, jogo entre Brasil e Chile, churrasquinho na casa do meu irmão, família inteira reunida: Duas avós, quatro tios, cinco tias, quatro crianças e um bebê.

Fim do segundo tempo: empate no um a um… ninguém ganhou no bolão… a tensão crescendo a cada segundo… todo mundo elevando a voz… no quarto as crianças se pegando… a prorrogação… o empate… OS PÊNALTIS.

Depois do grito “VEEEM!!!”, as crianças correram dos brinquedos pra frente da TV, cada um se ajeitou como podia no chão da sala e, no canto do sofá, encolhido e agarrado a uma almofada, meu menino chorava. Me agachei a seu lado, tentei segurar sua mão_ em vão, a almofada funcionava como uma espécie de escudo protetor. Tentei explicar: “É só um jogo… nada disso muda a nossa vida…” _ Chorava mais. Os tios vinham conversar: “Calma Bê… se perder, é assim mesmo… Também vimos o Brasil perder em 82, 86, 90…” _ Piorava.

Com a mão apoiada no seu ombro, aguardei outros chutes e defesas.

Então Júlio agarrou uma… Agarrou duas… Na última cobrança, o jogador chileno mandou na trave e selou a vitória brasileira.

Meu menino chorava mais. Mas era de alegria. E agora os olhos e bochechas vermelhos denunciavam a comoção _ avassaladora para seus escassos oito anos.

Voltando para casa, recompostos e felizes com o mais novo herói da seleção, sir Júlio César, percebi que a agitação ainda tomava conta do rapazinho no banco de trás. Cansado, emocionado, agitado e muito sensível, não queria sequer imaginar a possibilidade de uma derrota da seleção nos próximos embates.

Sim, ele só tem oito anos. E por isso, tudo é muito novo, gigante, avassalador, desproporcional. Só que os meninos crescem, e quanto antes aprenderem o tal do saber perder, tanto antes descobrirão o peso e a medida de cada vitória ou derrota em suas vidas.

Dessa vez nosso goleiro teve sorte, mas não foi nem será sempre assim. Em nossa vida, como na natureza, existe uma lei chamada aleatoriedade. Não costumamos dar muita atenção a ela, acostumados que estamos com causas definidas para cada resultado. Essa lei, ao contrário, está apoiada nas correntes da intuição, aquela luzinha que todos nós possuímos, mas pouco damos atenção. Assim, segundo a aleatoriedade, “o êxito ou fracasso podem não surgir de uma grande habilidade ou grande incompetência, e sim, de ‘circunstâncias fortuitas'” (essa frase eu tirei de um livro muito bom que estou lendo, “O andar do bêbado _ Como o acaso determina nossas vidas”, de Leonard Mlodinow).

Então, meu rapazinho, não dê um valor desmedido às corridas, aos campeonatos, às competições em sua vida.

Sabe aquela frase: “Tudo o que tiver que ser, será”?  É clichê, é bobo, mas é real. E não sou eu que digo isso, é a física, são os físicos, pessoas importantes como o autor que eu citei. Então acomode-se sem roer as unhas ou sofrer em demasia por um pênalti ou qualquer outro evento que não pode controlar. Circunstâncias fortuitas acontecem na vida de todos e de cada um, e temos que aprender a lidar com o imprevisível, sem tanto alarde, sem tanta ebulição.

Júlio César foi homenageado como herói. Mas poderia não ter sido. Apesar de todo esforço, garra e competência, existem chances. Chances de dar certo e chances de dar errado. Num total de “x” tentativas, ele agarrou o suficiente para o Brasil sair campeão. Mas, e se houvessem mais lances? Nesse caso, existe um fenômeno chamado “regressão à média”. Isso quer dizer que existe a probabilidade de um acontecimento extraordinário ser seguido, em virtude puramente do acaso, de um acontecimento menos “feliz”.

A boa notícia é que os bons e maus eventos se intercalam, na natureza e em nossas vidas. Por isso, dar um valor exagerado a um ou a outro é desacomodar-se desnecessariamente, declarando heróis ou vilões antes do tempo.
Desistir antes do tempo faz parte dessa ansiedade que desconhece o acaso e a aleatoriedade. Assim como Júlio César não pode crescer como um gigante só porque fez o Brasil vencer nos pênaltis, o mesmo Júlio não poderia se considerar um fracasso caso não o fizesse. Quantas outras histórias a gente não conhece de gente bonita que foi recusada por uma agência de modelos e mais tarde tornou-se um estrondo? Se não me engano, Gisele Bündchen foi considerada nariguda demais no começo de carreira. Agora já pensou se ela desiste de ser modelo e vai fazer pedagogia? E outros casos _ quem nunca ouviu contar da pessoa encalhada que não namorava ninguém, e no dia que arranjou um namorado apareceram mais três? Do filme que foi recusado por uma produtora e estourou em outra? Do livro considerado um fracasso em uma editora que virou sucesso de vendas na outra?

Então, não leve tão a sério as críticas e valorize na medida os elogios. Prepare-se, estude, tenha foco naquilo que você deseja. O acaso pode lhe presentear na hora que menos imagina, e estar pronto para agarrá-lo com unhas e dentes na hora que ocorrer é a melhor maneira de não se desapontar. Mas se a sorte não lhe sorrir como gostaria, dê tempo para que a “regressão à mé



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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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