A fidelidade genuína não depende da cobrança do parceiro, é uma escolha do coração.

Eu acredito que muitas pessoas já tiveram a oportunidade de experimentar algum envolvimento fora da relação, mas disse “não” e isso não se configurou em nenhuma espécie de conflito. Uma pessoa realmente entregue a uma história de amor é fiel e essa fidelidade não tem nenhuma relação com valores religiosos, morais ou sociais. Ela recusa outro envolvimento simplesmente porque sente-se plena e convicta de que o que está vivendo transborda e ela não precisa de nenhum complemento.

Eu acredito que a verdadeira fidelidade é esta: ter outras oportunidades de relacionamento e recusá-las simplesmente porque não há espaço para mais ninguém. É diferente de alguém ser fiel por medo de ser descoberto ou por medo de alguma suposta punição espiritual. Nesse contexto, a pessoa evita trair o parceiro, quero dizer, ela evita materializar algo que ela está desejando muito. Entretanto, as intenções dela não se casam com as ações. Ela está experimentando uma verdadeira luta por dizer não à uma aventura.

Muito provavelmente, se ela tivesse a certeza de que sua infidelidade nunca fosse descoberta, ou que ela não tivesse nenhum prejuízo espiritual, dependendo da crença, certamente ela experimentaria outros envolvimentos. Particularmente, eu gosto de levar em consideração as intenções que precedem as atitudes das pessoas. Às vezes acontece de alguém fazer algo que nos incomoda, porém, não foi a intenção dele. Outras vezes alguém nos beneficia, mas a vontade era de nos prejudicar, o benefício veio de forma acidental. Nos contextos dos relacionamentos amorosos, nem sempre a fidelidade é autêntica.

É muito complexo tratar desse assunto, mas entendo que a fidelidade é algo que não devemos cobrar do outro, em nenhum contexto relacional. Do que adianta uma pessoa não te trair porque está sob ameaça? Do que vale alguém estar contigo desejando estar com outra? Francamente, essa fidelidade não é nada lisonjeadora. Maravilhoso mesmo é quando o outro tem uma gama de possibilidades para se relacionar, mas escolhe ficar ao nosso lado.

Quando um casal é composto por duas pessoas que se querem de fato, é diferente. Sem conveniências, sem arranjos, sem expectativas de um mudar o outro. Nessas uniões prevalecem a admiração, o interesse pelo crescimento um do outro, o respeito, o cuidado recíproco, a atração física latente, etc. Em relações assim, não há espaço para inseguranças, ameaças, imposições ou cobranças de fidelidade. Não existe aquela ansiedade louca de um ficar rastreando o outro, muito menos vendo uma ameaça em potencial em cada pessoa do sexo oposto que possa ter qualquer vínculo de convivência com o parceiro. Nisso reside a riqueza de um relacionamento amoroso.

Quer sensação melhor do que sentir que alguém está contigo porque ninguém mais interessa a ela? É a verdadeira sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida, cantada por Caetano Veloso.

Imagem de capa: Roman Seliutin, Shutterstock



LIVRO NOVO



Sou uma mulher apaixonada por tudo o que seja relacionado ao universo da literatura, poesia e psicologia. Escrevo por qualquer motivo: amor, tristeza, entusiasmo, tédio etc. A escrita é minha porta voz mais fiel.

1 COMENTÁRIO

  1. Texto belíssimo e encantador… Como sempre, você, admirável escritora Ivonete Rosa, nos encantando com seus textos tão sensíveis e perfeitamente contextualizados Quando a fidelidade de alguém é condicionada a sua fé, devoção religiosa e até mesmo as conveniências… Acho pouquíssimo provável que, essa suposta fidelidade perpetue depois de escassez da fé e dos benefícios derivados do objeto da relação conveniente…

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