A ignorância é mais feliz que a inteligência

Por Laila Guedes

Chato quem não perde o juízo de vez em quando. Chato quem não sente a sensação da incompreensão. Quem nunca foi incompreensivo e incompreendido. Que chato deve ser isso, quase nunca pergunta porque já sabe todas as respostas. Chato, muito chato, não poder beijar a estupidez, abraçar a ignorância, cantar com o prazer de nada saber. De ter a mente vazia de tantas teorias, mesmo que por um segundo, não pensar em absolutamente nada e, se permitir ser uma criança desajuizada.

Até admiro a inteligência, mas não os pseudointelectuais que inflamam todo o seu conhecimento, como se entendessem de tudo um pouco. Alguns até afirmam que sabem de tudo, imagina. Quanto mais se vangloriam, mais são arrogantes e pedantes e chatos, demais. A inteligência só é boa nas horas imprescindíveis da vida, quando o bom uso cabe no momento oportuno. E se for para construir e ensinar algo de bom. Fora isso, o ato de estapear a cara da burrice, além de desonroso é também covarde e beira a hipocrisia. Acho desnecessário tamanha deselegância por parte da inteligência, e muitas vezes, falta sabedoria em perceber que a inteligência não precisa se exibir nem esfregar toda sua teoria na desavergonhada estupidez.

E devo ressaltar, direi algo que a inteligência irá me censurar e, pode parecer absurdo ou loucura, mas há um cunho de verdade nisso tudo – a ignorância é mais feliz que a inteligência. Ela é mais boba e despreocupada e humildemente inocente. Erra por não saber, mas vive ingenuamente seu estado natural livre e puro e castro. Muitas vezes não tem o mínimo de raciocínio, apenas diz o que sente, agindo por instinto. A ignorância é tão encorajadora que não se envergonha da sua estupidez porque sofre da amnésia de informação.

A ignorância age sem saber o significado das coisas, desprovida totalmente da inteligência, ela se esbalda na diversão desconhecida e alimenta-se da ausência do saber. Caminha sem informação, não finge, não falta com a verdade, apenas não sabe do que está falando, não entende, não compreende a linguagem da inteligência, mas também não vive de ilusão, exibicionismo.

Coisa chata isso, quem não assume o não saber, que sempre procura conhecimento de tudo e sobretudo as pompas da inteligência exibicionista. Quem tem um ego necessitado de grandes elogios. Que triste, pobre coitado e chato, muito chato. Feliz quem, vez enquanto, aceita a ignorância livre sem preconceito ou vergonha por tê-la em seus braços.

via Ativar Sentidos



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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