“É preciso aprender a se levantar da mesa quando o amor não está sendo mais servido”

A festa tinha terminado, mas Lucy continuava ali, sentada na mesa próxima ao palco, contemplando o que antes havia sido um banquete farto e delicioso.

A bolsa dependurada na cadeira, os restos do batom na boca, a mesa vazia.

Ela sabia que a festa tinha terminado – a gente sempre sabe. Mas insistia em permanecer ali, sentada, sozinha… na esperança de que tudo recomeçasse outra vez.

Mas a festa tinha terminado. As luzes estavam acesas, o salão vazio, o silêncio reverberando em todos os cantos do ambiente.

Tinha sido uma festa fantástica: houve música, alegria, comida farta, gente rindo e se divertindo. Ela se apegava às lembranças, desejando ardentemente que o baile recomeçasse. Mas ele não iria recomeçar. E, bem lá no íntimo, ela sabia.

A festa tinha acabado. Mas ainda assim, ela permanecia sentada, o vestido de tafetá arrastando no chão, os guardanapos amassados sobre a mesa, a esperança dançarina no olhar dirigido a cada 30 segundos para o relógio de pulso. Ninguém viria ocupar os lugares vazios, nenhum garçom voltaria a se aproximar da mesa, nenhum músico da banda recomeçaria o show. A festa tinha acabado.

O baile tinha sido tão vibrante… tão intenso, verdadeiro, real, significativo e pulsante! Lucy nunca havia sido tão feliz quanto naqueles momentos de fartura, música, amor e dança, e por isso era tão difícil levantar-se da mesa e despedir-se sem uma pontinha de esperança de que tudo voltasse a ser como antes. Ela se apegava às lembranças, e relutava em aceitar a nova realidade.

Porém, por mais que ela quisesse, pararam de servir o prato principal. Por mais que ela desejasse, pararam de oferecer as bebidas e canapés. Por mais que ela sonhasse, agora só havia migalhas, e isso não era nem de perto o que ela se lembrava de ter experimentado anteriormente.

O amor não estava mais sendo servido. Restavam só pedacinhos de afeto que ela sabia que não eram amor, mas insistia em acreditar que poderiam voltar a ser.

Finalmente, alguém se aproximou de Lucy e falou baixinho em seu ouvido: “Moça, me dá sua mão. A festa foi linda, perfeita, inesquecível… e talvez você nunca experimente nada parecido novamente. Mas essa festa que você insiste em esperar, ela acabou. Ela teve o tempo dela, e que bom que te fez feliz em alguns momentos. Mas agora restam apenas porções ralas, que jamais irão te sustentar. Vem, levanta da mesa porque o banquete não voltará”.

Lucy sabia disso. Mas seu coração não. E por isso era tão difícil se despedir. Mas então algo aconteceu e ela entendeu. Se ela continuasse ali, passiva e cheia de expectativas em migalhas, seriam só migalhas que ela iria receber. Porém, se ela fosse firme e corajosa o suficiente para recusar porções ralas, talvez o jogo virasse lá na frente.

Sem mais pensar, levantou-se e saiu da mesa. O amor não estava mais sendo servido, e ela não se contentaria com restinhos de afeto espalhados pelo salão. Tinha saudade, e não abstinência. A saudade lembrava que ela tinha amado e sido amada. Já a abstinência, era como a falta de um vício. Nunca fora tão feliz como naquele banquete, mas nem por isso aceitaria requentar em banho maria, sozinha, o que um dia tinha sido AMOR…

*O título do texto faz parte da letra da música “You’ve got to learn” de Nina Simone. 

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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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