Por Wal Reis para a Obvious
Sabe aquela história de que para um bom entendedor, meia palavra basta? Com a ausência funciona mais ou menos do mesmo jeito. É difícil aceitar. Mas na quarta ou quinta ocorrência, quando as tentativas de justificar vão ficando cada vez menos verossímeis, a gente começa a perceber que tem um caminho sem volta ali.
Só não está quem não quer estar. Principalmente no mundo conectado de hoje, no qual o outro está ao alcance de um teclado de celular. Não há nada que respalde a falta de comunicação. A não ser o desinteresse em estar presente.
Quem deixa lacunas conta uma história inteira. Na maioria das vezes, não é exatamente a narrativa que gostaríamos de ouvir. Mas é a que vale. E vale mais do que a história contada com palavras para desculpar a omissão, na tentativa vã de explicar o que, por si só, já está mais do que explicado.
Mas acontece que, às vezes, essas palavras chegam tão bonitas e se encaixam tão direitinho na métrica da trilha sonora escolhida, que acalmam o coração. E a gente se apega a essas explanações ocas como quem se agarra a uma boia no mar revolto, fazendo malabarismo para acreditar que aquele vácuo foi um acidente de percurso e que não vai se repetir.
Mas repete. Porque palavra bonita é que nem Band-Aid: esconde a ferida, mas não cura. O tempo também não cura. Ele só promove o afastamento da ausência que arde em carne viva para deixar a cicatriz do que *essa ausência tua me causou.
*Vinícius de Moraes, em Eu sei que vou te amar
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