Será que a gente sabe mesmo o que diz, quando diz que quer saber a verdade?

Que a verdade é um conceito relativo, a gente já sabe. Ou, pelo menos, já ouviu falar, certo? Que é quase humanamente impossível passar pela vida inteira sem contar umas mentirinhas, a gente também já sabe. E se não sabe, é bom começar a saber… porque pior que a mentira, só mesmo a sua prima exótica: a hipocrisia.

Hipócrita, segundo o dicionário, é aquele que demonstra uma coisa, quando sente ou pensa outra, que dissimula sua verdadeira personalidade. Aquele que oferece, quase sempre por motivos interesseiros ou por medo de assumir sua verdadeira natureza, qualidades ou sentimentos que não possui; fingido, falso, simulado.

Isso posto, podemos inferir que o hipócrita é um mentiroso com requintes de aperfeiçoamento na arte de enganar. A mentira, por si só, não se sustenta. Depende de muito esforço mental de seu mentor para continuar a ser algo remotamente palatável.

Já a dissimulação é uma artimanha sofisticada que a gente acaba comprando por um preço muito mais alto do que vale. O dissimulado é uma espécie de aranha com cérebro humano, sabe intuitivamente porque tece sua teia; mas, diferente do animalzinho de oito patas, sabe exatamente a quem pretende aprisionar.

Enquanto o ingênuo aracnídeo come qualquer coisa que tenha sido capaz de fisgar, o humano tecelão de ilusões escolhe a dedo suas presas. E, caso fique decepcionado com o sabor oferecido, descarta… sem nenhum constrangimento.

Acontece que a gente cai nas histórias mal contadas, engole as desculpas esfarrapadas e finge que acredita nas odisseias inventadas porque é muito menos trabalhoso iludir-se do que arregaçar as manguinhas de um sonho idealizado e mergulhar nas águas perigosas do mundo, em que as pessoas “juram dizer a verdade, nada mais que a verdade”.

A danadinha da realidade sem filtro é, em inúmeras situações, extremamente difícil de encarar. Ouvir a verdade requer da gente uma coragem imensa para enfrentar a experiência de dar de cara com o outro, despido das incontáveis camadas de idealização com que a gente o foi adornando, a depender do grau de nossa dependência desse personagem criado para ser feliz.

Será que a gente sabe mesmo o que diz, quando diz que quer saber a verdade? Será que a gente, no fundo, no fundo, não prefere umas mentirinhas sinceras? Será que a gente vai saber o que fazer com as revelações que exige do outro, num momento de impulsiva independência e bravata?

O que talvez a gente não saiba, ou finge não saber… é que mentiras ou “meias verdades” são como pedaços de cortiça no fundo de um lago: assim que a gente se distrair e esquecer de segurá-las, elas virão à tona.

Quer você tenha dado à vida um ultimato, quer você ande fazendo ouvidos moucos às insinuações do destino, é bom que você entenda que quanto mais tempo você agasalhar uma ilusão, mais frio vai sentir quando ela finalmente resolver ficar nua bem na sua frente. A escolha, como sempre, é completamente sua… completamente sua.

Imagem de capa: Krillsyou, Shutterstock



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"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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