Imagem de capa: All kind of people, Shutterstock

“Eu amei, mas machuquei a pessoa. Eu amei, mas trai. Eu amei, mas menti. Eu amei.” É o que se gabam em dizer, que amaram. “Eu perdi um amor”, você diz. Pois talvez você nunca amou de verdade, eu digo.

Nos vendem uma ideia de amor tão desprezível, tão mínima, que as vezes acabamos comprando e pagando caro por esse conceito diminuto. E lá estamos sofrendo por alguém que nos maltrata, que não nos trata bem, que não nos presta atenção, que não nos acompanha. Dizemos que amamos alguém que simplesmente não nos ama.

E seguimos, porque acreditamos que seguir é amor, porque a pessoa nos deu um pouco de atenção e isso é amor. Porque nos chama para sair uma vez por semana, porque nos dá um abraço apertado quando nos decepciona, porque nos diz que somos a parte mais importante do seu universo. Seguimos porque somos carentes afetivos e as migalhas que nos dão parecem ser o suficiente. O pouco nos basta.

Nos apaixonamos por quem corresponde ao nosso sorriso, por quem fala as palavras certas na hora certa, por quem responde as nossas mensagens em dois segundos e com emoji de coração. Nos apaixonamos por muito pouco.

Mas que tipo de amor é esse que mente e manipula? Que não respeita e não está nem aí? Que tipo de amor é esse que é egoísta e não lhe deixa seguir os seus sonhos? Que tipo de amor é esse que prende e que lhe diz o que deve ou não deve fazer? Que nos vê como propriedade privada, como se não fossemos nem de nós mesmos.

Que tipo de amor é esse que um dia enjoa e acaba? E depois que acaba vira ódio? Que tipo de amor é esse que tem prazo de validade? Como se a vida já não fosse breve o suficiente para dizer: “preciso de um tempo” ou “precisamos conhecer novas pessoas”.

Talvez nunca nos amaram de verdade. Talvez, nós também nunca amamos ninguém e só queremos acreditar que atingimos o amor. Queremos olhar para os lados e poder dizer “um dia eu amei”, “um dia alguém me amou”, “eu estou amando”, “alguém me ama”, mas talvez seja essa a nossa grande mentira que contamos para o mundo.

Eu não sei o que é o amor, mas eu não acho que amor tenha a ver com sofrimento, nem que seja algo que nos leva para o fundo do poço. Eu acho que amor é como um delicioso chocolate quente no frio penoso do inverno. Eu acredito que o amor é algo que poucas pessoas alcançam, como ver o pôr-do-sol no Everest, algo assim.

É por isso que tantas vezes ouvimos que precisamos nos amar antes de amar outra pessoa, para que possamos ter alguma ideia sobre como devem nos tratar quando somos amados. Para encontrar alguém que se ame também e que saiba pelo menos onde está nos levando. Alguém que também nos ensine sobre o amor, porque a verdade é que sabemos muito pouco sobre isso. E se não sabemos nos amar, um pingo sempre terá gosto de dilúvio.

Talvez eu esteja errado, e o amor seja essas dubiedades todas que ouvimos no dia a dia. Talvez o amor seja mais tristezas que alegrias, mais decepções que orgulhos e mais egoísmos que renúncias.

Ou talvez o amor seja mais do que imaginamos.

Francisco Galarreta

Francisco Galarreta ajuda as pessoas a desenvolver o seu autoconhecimento e a trabalhar a Inteligência Emocional, grava dicas diárias nos stories do Instagram: @franciscogalarreta

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  • Muito lindo seus textos. Amo lê. Infelizmente poucas pessoas sabem amar, e o significado do amor.
    Parabéns

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Francisco Galarreta

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