O que te faz, realmente, feliz?

Imagem de capa: Iakov Filimonov, Shutterstock

«O problema é que não há nada que eu goste, realmente, de fazer.» Oiço, com algum desânimo, da boca das pessoas. De alguns amigos. E dou comigo a pensar: «E isto chega-te?» «É-te suficiente?» «Faz-te feliz?» «És feliz?»

Todos – ou quase todos – temos trabalhos que gostamos mais ou menos, temos ordenados que suportamos mais ou menos, temos dias mais ou menos, temos uma vida mais ou menos. Vivemos mais ou menos. Mas, quando somos confrontados com as perguntas – que, tantas vezes, achamos que são meros clichés –, não sabemos as respostas. Não sabemos o que responder. Falta-nos como responder.

Se te perguntassem o que realmente gostas de fazer, o que responderias?

Esquece o viajar, o conhecer o mundo, o comprar uma casa maior ou um carro topo de gama. Vou voltar a perguntar. O que gostas, realmente, de fazer? O que te faz abstrair, totalmente, do sítio onde te encontras? O que te faz ter a certeza absoluta de que as horas te pareceram escassos minutos? O que te faz ficar com a sensação de que te soube a pouco? O que te faz querer mais? O que te faz querer muito mais? Resumindo: O que te faz, realmente, feliz?

Todos temos um plano A. Aquele no qual vivemos. Todos os dias. Um dia igual ao outro. Temos um emprego – precário ou não –, o qual mantemos mais por uma questão de sobrevivência do que por uma questão de conveniência. Temos um carro e uma casa, dos quais somos reféns durante dez, vinte anos. E temos uma vida que, se não for melhor, ao menos que não se torne pior. E, quando nos perguntam o que nos falta fazer, esperamos sempre que a resposta venha num boletim premiado do Euro milhões. E, aí, sim, desatamos a enunciar um rol de coisas que dariam para satisfazer três gerações. Mas, como o boletim premiado teima em tardar chegar, adiamos a vida por mais uma semana.

Conseguem imaginar algum pintor que não goste de pintar? Conseguem imaginar algum bailarino que não veja na sua expressão corporal o seu expoente máximo de libertação? Conseguem imaginar algum escritor que se expresse sem acreditar, minimamente, naquilo que escreve, que ficciona, que imagina? Conseguem imaginar alguém que pegue numa prancha e que entre no mar sem o perceber, sem o respeitar, sem o amar? Certamente, haverá quem o faça, mas com toda a certeza que não está nestas atividades pelas razões certas que deveria estar. Por paixão. Por intuição. De coração.

Ultimamente, tenho vindo a partilhar da opinião de que o problema não reside nas respostas que não sabemos dar. O problema reside nas perguntas que não sabemos fazer. Passamos metade da vida a tentar encontrar respostas para as perguntas das quais tendemos a fugir. Ficamo-nos pela chave do euro milhões porque assim não temos muito no que pensar. Aliás, com o euro milhões podemos, perfeitamente, comprar as perguntas e as respostas. E lá vamos nós por esse mundo fora – de avião ou num dos melhores carros do mercado – saber como é ser feliz.

E se o euro milhões nunca chegar? Vais continuar com trabalhos mais ou menos, ordenados menos do que mais? E a ter dias mais ou menos, a ter uma vida mais ou menos? Vais continuar a viver mais ou menos?

É certo – ou, se não for certo, é muito provável – que nem todos iremos conseguir subsistir fazendo o que nos dá, realmente, prazer. É provável que nem todos consigamos ser pintores de sucesso, bailarinos de elite, escritores de Best Sellers ou surfistas de renome mundial. É muito provável que tenhamos de manter um emprego mais ou menos e que continuemos a ter um carro mais ou menos. Mas há uma coisa que não pode continuar a manter-se mais ou menos. A vida. Não podemos continuar a viver mais ou menos. E, se não nos propusermos a tentar, nunca chegaremos a saber. Desconfio que grande parte do problema está, precisamente, aí. Temos medo de tentar. Porque não acreditamos que seja possível, porque achamos que a sorte só calha aos outros, porque amanhã tentamos. Hoje, ainda não.

Mas sabem uma coisa? Os outros – os que um dia tiveram sorte – também começaram no zero. Também tentaram uma e outra vez. Também choraram antes de conseguir sorrir e também foram feitos de derrotas antes de serem feitos de conquistas. Mas, mesmo assim, foram. Insistiram. Acreditaram. Não desanimaram. E, hoje, são os tais sobre os quais dizemos que a sorte só lhe calha a eles. Não é sorte, queridos amigos. É ousar viver.

Vou voltar a perguntar.



LIVRO NOVO



Júlia Domingues. 39 anos. Jurista de formação, criativa por paixão. Sou feita de gargalhada estridente talvez porque acredite que, estridente deva ser a nossa existência. Não para os outros. Para nós. Estamos começados mas não estamos acabados. E , no fim; no regresso a nós, que consigamos, serenamente, dizer: «Ousei viver!». Sou feita de sentir e o que não me cabe no peito, transpiro-o nas palavras e no desenho. Sou mulher e sou feliz.

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